(Uma loja. Na porta um homem bem vestido. Gritando como um vendedor.)
Negociante – Seja um Presidente. Adquira sua marca do Besta... Digo-lhe... Indolor... seja agora mesmo o Presidente do Brasil! Pagarás uma bagatela.
(Um homem se aproxima curioso e interroga o Negociante.).
Homem - Bom dia!?
Negociante - Bom dia.
- É que quero entender esse negócio... Quer dizer que qualquer um, tipo eu, sem eira nem beira, mas... Qualquer um mesmo pode ser Presidente?
- Sim.
- Sem ter estudo?
- Sim.
- Sem faculdade?
- Sim.
- Sem ter casa de luxo ou família fluente? Mesmo usando chapa, tendo sido proletariado, falando errado...
- Sim...
(Sai um homem da loja, com a mão ensanguentada e um pano cobrindo o ferimento. Sorrindo e aparentemente feliz o homem sai gritando).
Paciente - Sou um homem feliz, agora sim hein! Serei um presidente da Republica! Olha Você que nem sei sequer o nome, de cara sofrida, e angustiado por vida. Na real, entra lá e seja um Presidente, como eu serei.
Homem - (Curioso. Desembesta a falar) Pera aí, sem ter feito USP, UFBA, PUC... Sem ter feito Direito, sem ter conta no estrangeiro?
Negociante - Sim!
Homem - Quer dizer que se meu sobrenome for Santos, Silva, Pereira eu poderei ser um...
- Claro!
- Mesmo sendo nordestino, suburbano, preto, transexual, estar envolvido no mensalão, na lava jato, não gostar de Cultura, de pobre, mesmo não gostando de mulher bela, do lar, recatada, mesmo eu jurando pela minha mulher na frente da Tevê, mas o pensamento estando no apart hotel que me encontro com minha amante, mesmo assim eu...
- Vivemos num País democrático ou não companheiro?
- Acho que...
- Achismo aqui não existe querido! Direita ou esquerda, no final todo mundo fica torto...
- Pera aí, tô confuso, mesmo eu não gostando de gays, do Maranhão, do Piauí, do planalto, do Serra... Mesmo assim eu posso ser um presidente?
- Sim
- Vou dar essa honra a minha Mãe, ela vai agora ter que engolir que eu não precisei estudar, nem falar o inglês para governar esse Brasilsão de Meu Deus. Então como eu faço? Quanto custa?
- Custa baratinho, quando for Presidente prometerás não receber propinas, nem dinheiro sujo de subornos ou corrupção... Não privatizará nada, mas pode falir tudo! Será integro e justo... Jurará só receber presentinhos dos amigos... Uma fazenda, uma cobertura, 100 mil cabeças de bois, ligar só pra Oi... E ai, aceita?
- Oxi, aceito meu fio! Mas responda pelo amor do Senado, o que preciso fazer?
- Entre por essa porta, receba sua marca feliz e volte para assinar o contrato de homem santo e Imaculado.
(O negociante volta a fazer sua propaganda. O homem volta sem o dedo feliz)
Homem - E se for eleito o que vais fazer?
Negociante - Oxi, depois que conhecer o poder não sairei mais de lá... Darei uns cem contos por mês aos pobres como eu, vale gás, vale tudo, depois vou dar uma bolsa gigante, se as granfinas gostam das bolsas caras, as "muié" do pobre a de adorar parir desenfreadas por uma bolsa... E casa? Nunca mais um pobre morará num quartinho... Vão tudo morar no apartamento... Mesmo que tudo rache depois. Aí quero ver eu perder uma eleição! Gostou da ideia?
- O mais preparado até agora de todos os candidatos que por aqui passou... De todos aqueles com a escolaridade abaixo do primeiro grau serás idolatrado, sinto o cheiro do poder... Mas e o dedo? Valeu o sacrifico?
- Acredito que sim... (O homem dar um estrondoso grito.)
- O dedo doeu?
- Oh meu Deus, doeu, eu sei que talvez não venha a ser Presidente, mas o que me conforta é que posso ter uma pensão vitalícia, não é mesmo?
Negociante - (Imitando Temer) Deixe de pessimismo companheiro, só assinar aqui e garantir que eu como seu Vice Presidente, também receberei presentinhos seus, e vou estar do seu lado conduzindo-o para o caminho certo. Juro-te lealdades, instrução e letramento gratuito para toda a vida.
- E se eu não aceitar?
- Aí corto seu Bolsa Família e te despejo do Minha Casa Minha Vida! Ou melhor, te entrego ao Congresso, a Veja, a Globo, ao Cunha...
- Se eu temer o Cunha pega e se eu Cunhar o Temer fica... Fui banda Mel, não sei o que será pior! (sai gritando)