A história do patinho feio relata a vida de um cisne, que nasce em meio aos ovos de patos e, por ser diferente, é rejeitado tanto pelos animais como pelos seres humanos. Por ser rejeitado e maltratado, esse suposto patinho não reconhecia carinho e brincadeiras e sempre que era bem tratado fugia para outros locais, acreditando está sendo agredido.
Tempos depois, o tal patinho feio, descobre que ele é um cisne e que atrás da suposta feiura existia uma beleza digna da sua espécie.
Quantos patinhos feios podemos encontrar no meio social? Quantas crianças, jovens, adultos e idosos são rejeitados por serem diferentes e pela sociedade não observar sua real beleza?
Diana Corso e Mário Corso, autores do livro: Fadas no divã, fazem uma analogia entre a história do patinho feio e as angústias vividas pelas crianças e famílias durante o nascimento. Primeiro os autores relatam sobre a angústia e o medo que os pais possuem dos seus filhos serem trocados por outra criança ainda na maternidade e o segundo fator é o sentir-se amado, que apesar das crianças serem filhos biológicos isso não lhes garante um amor real ou diferenciado daquelas que são adotadas.
Além desses aspectos, os autores relatam a condição dos filhos serem "perfeitos", destacando que essa fantasia surge como preenchimento do volume do ventre materno. Este filho "perfeito" ao está em contato com a mãe precisa ser olhado, reconhecido e aceitado como seu.
E quando essas crianças não são consideradas "perfeitas"? Quando possuem alguma deficiência? Elas são rejeitadas como o patinho feio?
Infelizmente nos deparamos constantemente com situações de famílias que se preparam para a chegada de uma criança e são surpreendidas com a notícia de que o filho tão esperado e fantasiado como "perfeito" possui algum tipo de deficiência. Para este pais inicia-se um momento de luto, o qual o desejo e a realidade entram em conflito dando lugar a uma angústia que não parece ter fim: eles precisam cuidar da criança, mas não estavam preparados para tal situação.
O luto será interrompido somente quando acontece a aceitação, quando os pais olham, reconhecem e aceitam o filho como seu, conforme Diana Corso e Mário Corso relatam. Após a aceitação o termo luto deixa de ser um substantivo e passa a ser um verbo.
A luta apenas começa, os pais precisam lutar pelos direitos da criança e buscar inseri-la no meio social, que muitas vezes irá direcionar para ela o mesmo olhar vivido pelo patinho feio: rejeição.
Muitas pessoas não conseguem enxergar a beleza que estas crianças possuem e identificam somente a sua deficiência, que aliada ao olhar julgador vem carregada de palpites sociais de quem não entende sobre a deficiência e as dificuldades enfrentadas e não vive aquela situação no cotidiano.
Recordo-me de um relato de uma mãe que viveu um momento de conflito ao se deparar com tantas sugestões sobre o que fazer e como fazer para ajudar o seu filho com autismo. Muitos foram os palpites, sugestões, de quem nem se quer conhecia a deficiência. O que lhe deixava mais angustiada e "perdida".
Diante dos relatos e das dificuldades dessas famílias, cabe a nós apoiarmos e lutarmos junto com essas famílias pelos direitos dessas crianças. Não com um olhar penoso, julgador ou "palpiteiro", mas na condição de seres humanos que podem e devem exercer uma função social, visando inserir essas crianças na sociedade e mostrando o seu potencial e real beleza.