LUÍS CUNHA PIMENTEL, nascido na cidade de Gavião, em 1953, mudou-se muito pequeno com sua família para Feira de Santana, e aqui cresceu e se educou, demonstrando cedo seu talento para as artes, começando como ator, e revelando de logo um grande talento para carreira teatral, passando a participar dos mais importantes grupos de Teatro da época: TEF, depois passou ao TEAM, e posteriormente no META-SCAFS, onde, inclusive, montou a primeira peça de sua autoria em parceria com Emanoel Freitas. Aqui em Feira também participou da criação da Revista HERA, com os mais importantes intelectuais de vanguarda de então. Em 1975 Luís Pimentel, nome que adotou desde o início em seus primeiros trabalhos, mudou-se para o Rio de Janeiro e inscreveu-se na Escola de Teatro, logo surgiu uma oportunidade para trabalhar na Editora Vecchi, onde participou da redação da revista de humor americana MAD, e de outras publicações da Editora.
Definitivamente o trabalho de Pimentel na Vecchi foi fundamental para a decisão de que carreira deveria seguir, passando a dedicar-se as letras, como poeta, escritor e jornalista. Luís Pimentel especializou-se também em música popular brasileira, hoje tem mais de 20 livros publicados (boa parte dos quais dedicada ao público infanto-juvenil), entre seus livros estão duas biografias de compositores da MPB: Wilson Batista (O samba na corda bamba) e Geraldo Pereira (Um Escurinho Direitinho), ambos em parceria com o pesquisador Luiz Fernando Vieira.
Escreveu sobre música em diversos órgãos da imprensa, e manteve uma coluna sobre o assunto - MPB do B - na revista "Bundas", na qual também atuou como editor-executivo. Dirigiu e editou a revista "Música Brasileira", publicação dedicada à memória e a lançamentos da MPB. Entre os anos de 2002 e 2004, manteve regularmente uma coluna no jornal O Dia e, atuou como editor e colunista do jornal O Pasquim21. No ano de 2005 passou a escrever sobre MPB para o Jornal do Brasil. Pimentel é um destes feirenses de coração, nasceu no Município de Gavião, é radicado há 35 anos no Rio de Janeiro, mas vem a Feira de Santana, onde mora sua família, pelo menos duas vezes por ano, e em quase todos os compêndios que a ele se referem, o fazem constar como feirense, como é o caso do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, que mantém a sua biografia como feirense, por ter se destacado na área jornalística como um especialista em MPB.
Em 2008 publicou o livro "Noites de sábado" (Editora Leitura), no qual compilou várias crônicas publicadas na impressa carioca através do anos. Luís Pimentel é um destes grandes talentos dedicados às letras, que ajuda a construir os intelectuais do futuro do Brasil e, uma fonte de inspiração para os jovens feirenses que dele passam a conhecer a história de lutas para conquistar aquilo em que acredita, e as vitórias que soma com diversas premiações em concursos literários que participa com seu talento.
(Viva Feira - 2010)
HARILDO DEDA, O CARECA DA MERCEARIA
(Do livro O carioca de Feira de Santana, volume de crônicas a ser lançado pela Editora Mondrongo no Festival Literário e Cultura de Feira de Santana, na última semana de agosto)
Publicado em: 28/07/2024 - 20:07:20
Harildo Deda - Foto: Ufba
No começo dos anos setenta eu fazia teatro amador em Feira de Santana. Não fui dos melhores no tablado, mas participei de um movimento onde pontificavam craques como Franklin Maxado (grafia própria, hoje um dos maiores autores da literatura de cordel baiana e brasileira), Antônio Miranda, Zé Maria Monteiro, Luciano Ribeiro, Geraldo Lima, Emanoel Freitas, Zé Andrade, Dimas Oliveira, Cézar Ubaldo, Ruy Barcellos, Margarida Gothe (Rios), Aliomar Simas, Suzana Barreto, Edson Baptista, José Carlos Teixeira (hoje um super jornalista), e de onde despontaram nomes que já brilhavam nos palcos profissionais de Salvador, como Deolindo Checcucci Neto e Antônia Veloso.
Nosso grupo de jovens e indomáveis artistas feirenses participou da fundação e inauguração do Teatro Margarida Ribeiro (nome de uma atriz que partiu muito cedo, irmã de Luciano), o primeiro espaço teatral digno desse nome na cidade. Naquele palco pequeno, porém decente, eu vi, pela primeira vez, uma atuação de encher os olhos e que me enfeitiçou de vez com a paixão pelos palcos: Harildo Deda, já um dos maiores nomes do teatro e cinema baiano e brasileiro, que teve a humildade de levar até lá a peça “A última gravação”, de Samuel Beckett – espetáculo com qual acabara de receber o prêmio de Melhor Ator no Festival de Arcozelo, no Rio de Janeiro. O encantamento foi tamanho e tão determinante, que dois anos depois eu estava em Salvador, matriculado na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, onde tive a honra e a imensa alegria de ter, entre os professores, Harildo.
O baiano e soteropolitano de coração Harildo Esteves Deda na verdade era sergipano. Nasceu em Simão Dias, em 1939 (Nos deixou no dia 19 de setembro de 2023). Ao me dar a notícia, Antonio Miranda (hoje músico de múltiplos talentos, compositor, diretor teatral e escritor) contou que o visitara na véspera e que ele reafirmara a intenção de dirigir uma peça que eu e Miranda escrevemos juntos, com o seguinte juramento:
“Compromisso é compromisso, rapaz!”
Em mais de seis décadas de atuação nos palcos baianos, nas telas do cinema nacional e em diversas novelas da televisão brasileira, fez personagens inesquecíveis (citando entre os que vi) nas peças teatrais “História do Zoológico” (de Edward Albee), “Oxente, gente” (de João Augusto), “Medeia” (de Eurípides), “Um homem é um homem”, de Bertolt Brecht, e “Nosso céu tem mais estrelas” (um espetáculo lindo, marco do teatro baiano, escrito e dirigido por Deolindo). Cito ainda a segunda versão da novela “Gabriela, cravo e canela”, da TV Globo, e os filmes “Pindorama”, de Arnaldo Jabor, e “Central do Brasil”, de Walter Salles Júnior.
Em “Central”, onde Deda domina a câmera contracenando, simplesmente, com Othon Bastos e Fernanda Montenegro, ele tem participação pequena e definitiva: o dono de uma mercearia de beira de estrada. Após assistir à sessão em um cinema do Rio, parei para tomar um chope na esquina mais próxima e ali capturei o seguinte diálogo na mesa ao lado, em meio a comentários sobre a fita:
“Adorei o trabalho do ator baiano Harildo Deda, que faz uma cena curta com intensidade de gigante.”
“Quem é Harildo Deda?”
“O careca da mercearia, que recebe a mercadoria de Othon e pega Fernanda furtando umas miudezas...”
“Ah, sim, claro. Excelente!”
Senti ali o mesmo orgulho que senti no primeiro dia de aula na Escola de Teatro do bairro do Canelas, em Salvador, quando descobri que ele estava entre os que seriam meus mestres.