Mexendo nos meus arquivos, encontrei uma crônica que escrevi, quando ainda a nossa cidade tinha o seu centro cheio de vendedores de todo tipo. Resolvi, então, trazê-la de volta, pra você que ainda não a leu...
“Segunda-feira, centro da cidade lotado, gente vinda de todas as partes e lugares. Em cada cabeça, um plano de vida; uma meta; um ideal e a disposição de ganhar alguma coisa para a sua sobrevivência.
Passando pelo meio da multidão, deu para captar alguns diálogos e monólogos no mínimo interessantes.
Sentados em um dos bancos da velha Praça da Matriz, dois jovens conversavam despercebidamente e um deles dizia:
-Rapaz, já tô com quase vinte anos e não me nasce uma barba. Não nasce um bigode nem nada. Que zorra é essa?
O amigo apenas completou:
-Eu, quando tiver barba, vou fazer um cavanhaque de arrombar. Vou botar pra lá!
Segui meu caminho. Chegando na Marechal Deodoro, ali na esquina do calçadão que dá para o antigo Beco do Mocó, uma vendedora de cebola e alho gritava a plenos pulmões:
-Olha aí ó, cebola e alho. Quem vai?
E como ninguém estava indo, após algum tempo ela entrou quase que em desespero e bradou:
-Que merda! Não vou benzer a mão hoje não, é? (Cá, cá, cá, cá!)
Continuei com meus afazeres. Cheguei mais tarde ao lado do Mercado de Arte Popular e flagrei um diálogo digno de registro: um ambulante estava lá ofertando seus CDs e DVDs piratas. O freguês chegou, apressou o CD e o vendedor respondeu-lhe:
-É três.
O freguês fez uma fisionomia de quem tinha achado caro o produto e o vendedor não perdeu tempo:
-Eu lhe faço a dois. E se o senhor levar três eu faço cinco conto, pra ver se eu saio do ferro desgraçado que tô hoje.
A estratégia funcionou, pois o cara terminou levando os três CDs.
Pois é. Esta é a nossa Feira. Acolá, um grupo sul-americano tocava em plena avenida, vendendo seus CDs. Um homem fazia bolinhas de sabão, demonstrando a eficiência de seu produto. Os guardas apitando, os carros buzinando, um povo circulando...
Esta é a nossa gente, uma população mesclada de pessoas vindas de todas as partes da Bahia e até do Brasil e do mundo. Uma gente que quer vencer; que quer ser feliz; que quer o seu lugar ao sol.
Esta é a nossa terra. Amá-la chega mesmo a ser fácil. Deixá-la é quase impossível.”