Há alguns meses penso sobre este tema, desde que a vontade tomou-me pela mão e guiou-me a escrever, desde que as lembranças surgiram, dos que amei e partiram deste mundo, dos que amo e já envelheceram e dos que estão envelhecendo até sem perceber. Desde que notei que se aproxima o meu aniversário e cada ano chego mais perto dos cinquenta. Se eu perguntasse a vocês, leitores, o que é envelhecer, ouviria diversos conceitos, cada um formulado a partir do seu mundo, do seu ponto de vista, mas há algo em que a maioria concordaria: no fundo ninguém deseja a velhice, pois ela traz consigo a certeza da finitude da vida, o medo da morte que está diretamente ligado ao medo de sermos esquecidos, visto que a eternidade está plantada no coração do homem. Mas como ninguém ficará para a semente, vale a pena pensarmos com atenção neste tema.
Envelhecer é natural ao homem, assim como a certeza da morte, como alguém já disse: “O homem é um ser para a morte”, portanto, começa a envelhecer a partir do dia que nasce. Envelhecer é inevitável, é tão certo, tão moderno, que prefiro escrever ao som de Arnaldo Antunes, da música “Envelhecer”, que ele compôs e dedicou a si mesmo, pois completaria cinquenta anos, e a todos os que enfrentam e afrontam seu medo de envelhecer. Diz assim em um trecho: “A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer, a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer... Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender, que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr.”
O tempo corre para todos, tempo corrido, tempo vivido, embora alguns insistam em ser eternamente adolescentes, outros só aos trinta anos têm a consciência de que de fato estão envelhecendo. Muitas mulheres nessa idade possuem corpinho de ferro, cintura afinada, ancas levantadas, impávidas dentro de um vestido preto e justo, olhos de cobra com brilho de luz radiante, brincos compridos na orelha, boca vermelha refletindo seu fogo de loba. Depois do amor podem sentir uma explosão instantânea de felicidade capaz de fazê-las suspirar ao pensar: “nunca hei de ser velha”. Pensamento envolvido no propósito heroico de lutar com todas as forças contra os estragos do tempo.
Aos quarenta anos o corpo começa dar sinais naturais de envelhecimento: os joelhos começam a estalar, as articulações gritam, a lombar pode travar, quem ainda não usou óculos passa a usar, quem nunca pintou o cabelo passa a pintar e a busca por uma atividade física se torna obrigatória para a conservação da saúde. Aos cinquenta anos, a pessoa já é madura o suficiente para agir com altivez diante da constatação de que o viço da juventude se esvai. As mulheres não escapam da menopausa, nem da reposição hormonal e os homens da andropausa. Há até quem enfrente a crise da meia idade e o desejo impulsivo de voltar a ser jovem.
Para algumas pessoas a vida começa novamente aos cinquenta, estas vivem no “irresistível charme da maturidade”, sem cismas com a idade, sem cobranças, pois foram polidas pela vida e sabem aonde naturalmente vão chegar. Aos poucos aprendem a envelhecer, a curtir seus olhos firmes no presente, a calvice ou os cabelos à altura dos ombros e até a loirice que disfarça os fios brancos e realça o charme feminino, assim como os assumidos cabelos black power totalmente naturais. Algumas ao sentir o abismo do desencanto decidem correr riscos e amar novamente com a intensidade que tentam resgatar da juventude que se foi, aliada à maturidade da meia idade. Começam a andar de bicicleta, fazem pilates, hidroginástica, caminham mais ou entram no grupo de moto-estrada e se vestem com jaqueta preta e óculos escuros, com o ar de quem assumiu que está na metade da vida e deseja aproveitar os outros almejados cinquenta anos acompanhados da felicidade.