José Emanoel Moreira de Freitas, que desde cedo adotou o nome usual de EMANOEL FREITAS, nasceu em Feira de Santana, em 19-03-1953, filho de Jose Manoel de Araújo Freitas e Maria Sonia Moreira de Freitas, cursou o primário nas escolas General Osório e Ruy Barbosa, o Ginásio no Colégio Santo Antônio (neste colégio em 1970, quando cursava o 1º ano do curso científico, criou um Jornal Mural, tendo sido o primeiro contato com a comunicação e foi Coordenador do Centro Cívico, que substituiu o Grêmio estudantil por imposição da Ditadura Militar, tendo promovido o primeiro concurso de poesias do colégio com colaboração de alguns colegas), passando depois a estudar à noite, no Ginásio Municipal, para trabalhar durante o dia, foi vendedor de calçados, de ações, de seguros e de livros em Feira, fez o curso técnico de contabilidade no Colégio Santanopólis. Neste mesmo período participou dos Grupos Teatrais “TEAM - Teatro Amador” e “Reforma” (do qual foi um dos fundadores), tendo encenado várias peças de grande repercussão em toda região (“Compra-se um Marido”, “A Vigarista” “Prólogo” na peça infantil “O Coelhinho Pitomba” e participado em “Terra de Lucas” de Franklin Maxado), ainda nesta mesma época dividiu a autoria das peças: “Labirinto de Miséria” com Luís Pimentel, e a adaptação livre de “A Vigarista” com Ruy Barcellos, ambas montadas em Feira com excelente repercussão.
Em julho de 1972, achando Feira de Santana pequena para os seus sonhos artísticos, mudou-se para o Rio de Janeiro, com objetivo de fazer carreira no teatro, onde, paralelamente a atividade teatral que desenvolvia na Companhia “Roberto Duval Produções” (quando participou da montagem da “Raposinha Envergonhada” de Hélio Nery), cursava o técnico de contabilidade no Colégio Santa Rita. Indignou-se com a repressão e censura que pesava sobre o mundo teatral e desenvolveu habilidades como artesão, passando a sobreviver trabalhando com bijuterias e artefatos em couro, que vendia nas ruas do Rio de Janeiro e nas cidades do interior do Rio e São Paulo, com o propósito de se distanciar da sociedade de consumo, em pleno movimento hippie. Por estimulo de amigos, em especial de Apolônio Salles, após três anos de atividade artesanal apenas, voltou a estudar, formou-se no curso técnico de contabilidade no instituto Santa Rita e prestou em 1975, vestibular no CESGRANRIO, sendo aprovado para o curso de Direito da Universidade Estadual de Rio de Janeiro, onde logo se envolveu no movimento estudantil, apesar da perseguição dos organismos governamentais de repressão, junto com alguns colegas de faculdade editou seu primeiro jornal impresso: "O Andaime", publicando então seus primeiros poemas.
Participou de diversos jornais estudantis de outras faculdades na própria UEFS e inclusive na Faculdade de Direito da UFRJ também. Posteriormente colaborou com o Pasquim, prestando informações na área do movimento estudantil, assinando então com o pseudônimo "Mané Freitas, estudante" e como “Mané Moreira” como frasista. Por imposição histórica e como ativista do movimento estudantil e do “Comitê Aberto pela Anistia 1º Maio", teve forte participação no movimento da Faculdade de Direito pelos resgates dos diretórios acadêmicos, tendo feito parte como Diretor do CALC e, também do DCE da UERJ. quando colaborou e criou diversos jornais estudantis. Com o escritor e humorista Sylvio Abreu, o qual já havia publicado um poema seu na revista MAD (sua primeira publicação em uma edição de nível nacional), que levou a ser criado o “espaço poético” para poemas irônicos, organizou o primeiro ponto de Encontro da Imprensa Nanica, na Livraria Época, localizada na Rua Almirante Tamandaré, no Catete, de propriedade do Escritor Resende Filho, onde reuniam Edições da Imprensa Alternativa de todo Brasil, tendo nesta época abandonado o Curso de Direito por ter perdido uma eleição para o Diretório Acadêmico daquela Faculdade.
Já envolvido em atividades culturais, pelo convívio com escritores, artistas e intelectuais que colaboravam com “O Pasquim”, fundou junto com alguns amigos a Editora "SINOPSE EDIÇÕES", a qual publicou o Jornal de Humor "O BABEL" (Criado e editado por Sylvio Abreu) e o Jornal de Bairro "O Veículo" (Criado e editado pelo próprio Emanoel sob o pseudônimo de Agripino Crispin, codinome que usava para se proteger nos jornais estudantis frente a ditadura militar), que era dirigido as regiões de Gloria, Catete, Flamengo, Botafogo e Urca. Durante boa parte do período que viveu no Rio de Janeiro, manteve dois concubinatos e teve dois filhos, Emmanuel Oguri Freitas e Thiago Faria Freitas.
Com a abertura democrática do país e o conseqüente desestímulo que se abateu nos órgãos de imprensa alternativa, voltou a dedicar-se exclusivamente ao curso de Direito e ao artesanato que comercializava, na época, no alto do Pão de Açúcar, tendo concluído o bacharelado em junho de 1985 e, no dia 25 de dezembro deste mesmo ano veio passar o natal com sua família em sua terra, onde se encontra até hoje, tendo iniciado profissionalmente sua carreira no mundo jurídico, sendo advogado militante na Comarca de Feira de Santana e região. Pelo seu caráter inquieto é natural que logo voltando a se sentir em casa veio a fazer parte dos movimentos em defesa das prerrogativas da sua categoria. Estabelecido e integrado à advocacia em Feira, casou-se em 1988 e divorciou-se em 2003, relacionamento do qual nasceram às filhas Mariana Andrade Freitas e Emmanuela Andrade Freitas, que após o divórcio continuaram a viver com o pai. Em face da experiência em jornalismo, integrado aos movimentos da OAB, editou Jornal da instituição na Gestão de Ivan Dórea, participou de várias comissões em gestões de Vitalmiro Cunha, tendo ocupado a Secretaria da Subseção da OAB de Feira de Santana no triênio 2004/2006, sob a presidência de Celso Pereira. Pela sua natureza e por nunca ter parado de escrever sempre está participando dos movimentos de resistência poéticas e literárias de Feira, como sempre fez durante toda sua trajetória, já tendo participado objetivamente do Jornal do “Movimento Literário” (2001/2002) e, em 2003 com um grupo egresso daquele movimento, fundaram o Informativo Cultural "O Sonhador", do qual fez parte do Conselho Editorial. Em 2004, indicado por Benjamim Batista, se tornou membro da Academia Baiana de Cultura, e participou da Antologia Poética “Vozes D’alma”.
Em 2009, inconformado com as deficiências de informações no mundo cultural feirense, resolveu com Josy Santana criar um site para divulgar não apenas as atividades artísticas e culturais ocorridas em Feira de Santana, mas a própria arte e cultura no que fosse possível, criando assim um portal cultural, hoje em franco desenvolvimento e popularização, denominado “Viva Feira”, onde é o principal redator e mantém uma página como colunista, publicando crônicas e poemas. Integrado na linguagem digital, mantém páginas na maioria dos sites de relacionamento, como Orkut, Facebook, My Space, Sônico, etc., além de Twitter e blogs pessoais. Apresentou o quadro “Direito da toda prova” dentro do Programa de Rádio, “Diário da Feira” durante alguns meses e posteriormente participou do “Jornal da Povo” com o quadro “Viva Feira”, informando os destaques das atividades culturais de Feira de Santana, ambos da Radio Povo AM. Atualmente é membro das Academias: Feirense de Letras; Letras Jurídicas e Academia de Cultura da Bahia. Tem no prelo três livros para publicação, um denominado "Verdades e Mentiras sobre Feira de Santana“, "Verso e Reverso” e “O M´Eu”, o primeiro com com crônicas sobre causos feirenses, o segundo sobre poemas e crônicas variadas e o terceiro reunindo seus poemas por fases de sua trajetória de vida.
Criou o canal Viva Feira na plataforma do YouTube onde publica atividades artísticas feirenses, ou aqui estabelecidos e lives, já superando mais de 1.500 postagens.
VERSOS E REVERSOS
A RUA DOS DESEJOS E DA ALEGRIA
Da série : Verdades e Mentiras sobre Feira de Santana
Publicado em: 08/08/2014 - 01:08:30
Com nome de um santo, que de certa forma tem uma representação de pureza, pavimentada com um calçamento rudimentar, péssimo para o tráfego de bêbedos, e com olhos d´água que brotavam de forma insistente entre as pedras do calçamento rústico, a ladeira do Minadouro (Rua São José) abrigava um cem número de bordéis, que vieram pouco a pouco se instalando nesta região empurrados pelo comércio que crescia e tomava conta da "Rua do Meio" (atual Sales Barbosa), onde antigamente ficavam concentrados, praticamente, a quase totalidade das casas de tolerâncias de Feira, com exceção daquelas existentes no "Beco da Energia" e no "Beco do Mocó". A noite era iluminada e animada com músicas transbordando da maioria das casas, que ostentavam as tradicionais lâmpadas vermelhas na entrada, indicação de que famílias deviam evitá-las, pois tratavam-se de "casas de frequência", "bordéis", "castelos", "prostíbulos", locais onde não era recomendável que pessoas de família frequentassem.
Engraçado como a cidade olhava para o outro lado. Para as famílias tradicionais era como se o Minadouro não existisse, quando senão, admitiam sua existência, apenas para atender aos viajantes que por aqui pernoitavam, e que eram muitos, face a característica de Feira como forte entroncamento rodoviário. Admitir seus filhos, irmãos ou maridos frequentando aqueles lugares horríveis, nenhuma boa esposa ou mãe da família feirense iria admitir, mas a verdade era bem outra.
Uma vida noturna pujante e animada tomava conta daquela ladeira, se estendendo até o início das Baraúnas, onde haviam ainda as "7 casas", que eram populares e os bordéis de Donana e de Nilzete, que recebiam clientes mais refinados e exigentes. É bem certo que haviam ainda, fora da área do Minadouro outras casas que eram menos populares, e que normalmente tinham sido instaladas com investimentos mais pretensiosos para o ramo, visando atrair os clientes com melhor poder aquisitivo, como é o caso do "Sonho Azul", que foi instalado na Queimadinha, com uma estrutura que permitia o veículo do freguês ficar dentro da área interna, protegida por muros, ou seja, mais discreto. O Sonho Azul chegou até a realizar alguns stripteases, que na época, era o máximo em show erótico, que se podia esperar em uma cidade do interior da Bahia.
Outras casas de tolerância foram abertas em outros locais, mas o "Minadouro" era o mais frequentado, popular e que oferecia uma maior quantidade de opções e de diversão. A "Boite Apache" brilhava e resplandecia entre as opções do local, com música ao vivo, de qualidade, diga-se de passagem, pois mantinha uma banda com bons músicos, e inclusive com metais que enriqueciam as canções de origem latinas, serestas e músicas românticas que predominavam na época. Era comum também as canjas, inclusive proporcionadas por prostitutas talentosas, que em uma época de fraca comunicação nunca chegariam a se profissionalizar, e assim satisfaziam o ego e o desejo de cantar dando canjas nos bordéis. Algumas se tornavam muito populares e passavam, inclusive, a ser solicitadas pelos clientes mas contumazes.
O movimento era realmente muito grande, até porque era onde um grande número (a maioria) de jovens da época escolhiam para terminar a noite, após, naturalmente ter feito o aquecimento com as namoradas, em época que o amor livre era palavrão, e que poderia provocar até atos de violência com pais de famílias mais sisudos.
Subíamos e descíamos a rua visitando todas as casas, era como um vício, uns para ver se havia alguma novidade (uma nova dama da noite), outros por um hábito que terminavam por adquirir em acompanhar os amigos mais viciados e frequentes aos bordéis. As músicas que emanavam das casas invadiam a rua, o que proporcionava uma mudança de ritmos e estilos a todo instante, mas sempre prevalecendo a seresta e as músicas românticas, onde Waldick Soriano, Altemar Dutra, Silvinho, Orlando Dias e muitos outros brilhavam com suas canções carregadas com dor de cotovelo, afinal "Quem é que não chora uma grande dor" (verso de uma canção interpretada por Silvinho e muito comum no velho Minadouro).
Waldick Soriano, nesta época, era uma espécie de prata da casa, era comum encontrá-lo em bares do Minadouro e arredores, com amigos e até, muitas vezes, cantando ao som do violão, algumas de suas músicas que já faziam um tremendo sucesso na região, e por isso era muito adulado pelos frequentadores da "zona". Onde ele passava era comum o lugar ficar cheio. Era um tipo de ídolo muito querido e gozava da simpatia da maioria dos boêmios.
Entre as subidas e as descidas, era agradável ser chamado, de forma um tanto quanto melosa, de "paínho", e ouvir: "vem cá vamos fazer um neném"; que hoje certamente seria uma ofensa ou uma agressão, naqueles tempos era uma espécie de elogio, estávamos sendo escolhido por uma "dama da noite", o que nos permitia aceitar ou rejeitar, mas de qualquer modo alentava o ego, e no mínimo estimulava a continuarmos na noite, nas jornada tantas vezes repetidas até encontrar uma escolhida, ou simplesmente voltar para casa com o orgulho dos louros colhidos na noite. Pouco importava se havia interesse comercial nos assédios, o que realmente importava era o que ouvíamos, a verdade era a noite, as luzes, e aquele cheiro de perfume barato que tomava conta do ar.
E enquanto isso, a música de Waldick ia ecoando madrugada a dentro, até surgirem os primeiros raios da manhã:
"Minha querida, saudações
Escrevo esta carta
Mas não repare os senões
Para dizer-te o que sinto
Longe de ti
Amargurado na saudade
Das horas vividas com felicidade..."
Se para alguns ou até para maioria a ressaca do álcool não chegava a incomodar, por outro lado, a ressaca do amor, quando batia era terrível. Em tempo de doenças venéreas fatais é até difícil acreditar que houve um tempo, no qual, o médico da rapaziada era Marcelino, debochadamente apelidado de "Dr. p*", que atendia em uma casinha localizada em uma vila do centro da cidade, e que recebia a todos com um jeito jocoso e brincalhão. Estava sempre a amolar uma pequena faca, e não poupava os coitados que lá apareciam aos montes, com a possibilidade de cortar o mal pela raiz, ou quando não, pedia que trouxessem um banco para que o coitado subisse e pulasse, se órgão não caísse, ainda teria cura. Alguns iniciantes, que não conheciam o humor de Mercelino, ficavam desesperados. Um grande amigo meu que não conhecia o brincalhão, foi visitá-lo, por indicação da rapaziada, e por ter adquirido uma blenoragia (gonorréia) que se agravava, em sua visão, de forma galopante, e quando olhou pela janela e viu Marcelino amolando a faca e dizendo para um menino se aproximar, correu dali em uma velocidade impressionante, e até hoje, se lembrar a ele a existência de "Dr.p*", sente calafrios.
GLOSSÁRIO:
Blenorragia: doença sexualmente transmissível, provocada por bactéria Gram-negativa da espécie Neisseria gonorrhea, no homem, ger. caracterizada por uretrite, na mulher, por corrimento mucoso e nos recém-nascidos, por oftalmia gonocócica; gonorréia, gonococcia, gonococia (Dicionário Houaiss)