Na outra semana, o menino estava ali, embolsando novamente um cachezinho na Rádio Quionda. No sábado, a comunidade pela manhã estava ligada.
LOCUTOR:
- Bom dia pessoal! Hoje estamos aqui de novo com Perebinha. Espero que ele hoje esteja mais calmo e educado, para eu não ficar desesperado de novo.
PEREBINHA
- Olá ouvintes. Bom dia seu Heitor. Eu vinha não vim, mas terminou que muita gente pediu para eu vim, então eu vim. O dinheirinho que eu recebo também é bom. Estou de férias e fui no zoológico na capital, um lugar muito fedendo a caca de animais. Um macaco ensinado de pular o portão se soltou e não saiu, sabe por quê? O portão estava aberto. Também esse nome de zoológico é muito estranho.
O LOCUTOR:
- Zoológico não sei direito. Dizem que vem de uma palavra grega que significa “Lugar de animais presos para o povo visitar”. Ainda bem que macaco é burro, héim? Sua família estava lá?
PEREBINHA
- Como assim? A sua família é que estava lá, de cobras, macacos, jabuti e jacarés. Só se a minha família estava visitando a sua. Se a minha mãe ficar nervosa com essa história, ela vai dizer que está com a macaca. Como a gente fica com a macaca?
O LOCUTOR:
- Desculpe! Eu só queria saber quem foi com você. Esse é um bom passeio na capital, pois o parque é grande. Ficar com a macaca é um modo popular de dizer que está com raiva. Dizem que no casal de primatas, a fêmea é a mais nervosa e agressiva.
PEREBINHA
- Eu estava brincando com meu tablet perto da lagoa dos jacarés e deixei cair na lama. Meu pai disse que não podia pegar, pois a vaca foi pra o brejo. Mas não tinha vaca. Chorei e o cuidador disse que eu era dengoso de mãe coruja. Por quê?
O LOCUTOR:
- O povo diz que a vaca vai para o brejo quando e fica atolada, como você perdeu o tablete atolado. Mãe coruja é aquela que protege e cuida dos filhos com carinho. Não é ofensa.
PEREBINHA
- Minha mãe disse que a minha tia Val era igual a cobra jararaca do zoológico. Ela me deu uma bola linda e o guarda falou: Lavou a égua! Que égua?
O LOCUTOR:
- Pois é. Adultos são complicados mesmo, botam apelidos até na família. É apenas brincadeira. Lavar a égua é quando a gente ganha alguma coisa boa. Um jeito de dizer que ganhou presente. Deixa pra lá.
PEREBINHA
- Um senhor tirava fotos gritando: olha o passarinho! Mas qual passarinho? Tinha muitos. Sabe se elefante mata formiga? Ou formiga mata elefante?
O LOCUTOR:
- Olhar o passarinho é virar para o fotógrafo tirar a foto. Elefante e formiga não se matam.
PEREBINHA
- Eu vi uma formiga no pescoço do elefante e pensei se ele estava querendo dar uma orelhada nela ou ela querendo torcer o pescoço dele. Vi uma mulher coxuda de saia curta, e uma senhora velha falou: até aqui tem galinha mostrando asa. Outra coisa: Se uma cobra morder a própria língua pode morrer?
LOCUTOR:
- Elefante e formiga tem muita historinha. Quando mulher jovem mostra perna de fora, as mais idosas não gostam. Nenhuma cobra morde ela mesmo.
PEREBINHA
- Vi uma mulher falando com outra que engolia sapo do marido. Devia cair fora! Falei com o homem do zoológico que lá em casa tem um gato. Ele me perguntou: Aranha? Eu disse não. É um gato. Ele disse que os peixes no zoológico não fazem NADA.
LOCUTOR:
- É até engraçado mesmo. Engolir sapo é aceitar as coisas erradas dos outros sem reclamar. Eu acho que o homem quis lhe perguntar se arranha, e não aranha. Os peixes nadam. Jacaré nada. Patos nadam. Você não sabia? E você sabe nadar?
PEREBINHA
- Sei nadar, mas não sou bicho, viu? Esse negócio de sapo, minha mãe já está enjoada de engolir lá em casa. Deixa pra lá! Vi também uma coxuda chateada no celular, falando que conheceu um homem que até parecia ser um leão na cama, mas depois viu que não passava de um gaiúdo. Minha mãe mandou eu brincar e conversar com os macacos, mas os macacos não falam. Chegamos cansados e minha mãe foi me botar para dormir na cama com Jesus, mas eu queria era dormir na cama com a minha avó.
LOCUTOR:
- Agora complicou! Esse negócio de leão e gaiúdo depois seu pai vai lhe explicar. A caminha da vovó é boa mesmo. Acalma, não é? Sou bem vivido, e estudado, já vi muita coisa no zoológico que a gente chama de cidade. Eu sei de tudo
PEREBINHA
- Acalma sim. Você diz que sabe tudo, mas vagalume sabe mais. Vagalume acende a bunda, coisa que você não faz. Liguei para um hospício para fazer uma pegadinha, acho que um doido atendeu. Eu perguntei: Bom dia esse telefone é do hospício? Uma mulher respondeu: Oxe aqui nem tem telefone.
LOCUTOR:
- Vixe! Isso é coisa de doido mesmo. Não acendo a bunda mesmo não. Tá bom por hoje. Obrigado gente pela a audiência. Thau pessoal!
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Texto do livro – Rapsódia de Perebinha na Rádio Quionda - ISBN 978-65-86453-00-3
(Sempre teremos novas peripécias de Perebinha nesta coluna)