Antônio Carlos Gomes Belchior - cantor e compositor, além de artista plástico nas horas de folga, nasceu em 26 de outubro 1946, na cidade de Sobral, no Ceará.
Filho de Otávio Belchior Fernandes, juiz e delegado, e dona Dolores, que cantava no coral da igreja.
A Família
Foi casado com Ângela Henman por 30 (trinta) anos, a mãe de seus filhos Mikael e Camila.
Mas ainda teve duas filhas fora do casamento, sendo uma delas de uma fã que morava em São Carlos, interior de São Paulo, com quem saiu uma única vez. A outra foi fruto de um caso com uma estudante de psicologia no Ceará. Belchior pagava pensão alimentícia para a primeira, e a mãe da segunda menina não procurou a Justiça, por saber da situação precária dele.
Em 2007, o cantor assinou o divórcio, formalizado com divisão de bens e pagamento de pensão alimentícia a Ângela.
Com a separação, passou a viver com Edna Prometheu, companheira e empresária inseparável do artista, com quem conviveu nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, depois pelo Sul do Brasil e no Uruguai. Ela possuía uma personalidade forte, e não aceitava que ninguém o tratasse mal, por tê-lo num patamar muito alto de estrelato, e merecedor de uma dignidade exagerada.
Carreira artística:
Iniciou a carreira artística no início da década de 1970, depois de se mudar para Fortaleza, onde manteve contato com Fagner, Ednardo e Amelinha, quando criaram o grupo Pessoal do Ceará.
Numa brincadeira, Belchior adicionou os sobrenomes dos pais ao seu e disse que ficaria o maior nome da MPB como “Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes".
Antes disso, nos encontros que mantinham com regularidade, no Bar do Anísio, em Fortaleza, já era ouvida a canção Mucuripe, nome da praia em que o estabelecimento se localizava. A música ganhou nova versão por Raimundo Fagner, gravada por Elis Regina e Roberto Carlos.
Em 1971, abandonou o curso de Medicina no quarto ano e foi para o Rio de Janeiro, vencendo IV Festival Universitário da MPB, promovido pela TV Tupi.
Tem um álbum inédito, Vício Elegante, de 1996. Em 1999, lançou Autorretrato, com regravações de músicas de sua autoria.
Em 1974, lançou seu primeiro LP, A Palo Seco, quando também fez um de seus primeiros grandes shows, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, ao lado de outros artistas, como Erasmo, Giberto Gil e Fábio Jr.
Gostou tanto da cidade e região, que morou naquela capital por quatro meses.
Foi sendo cada vez mais conhecido, pelas vozes de estrela como Vanusa (Paralelas), Elis Regina (Como Nossos Pais) e Roberto Carlos (Mucuripe).
Em 1976, o disco “Alucinação” vendeu 1 milhão de cópias, o de maior sucesso, reunindo canções como “Apenas um rapaz latino-americano”, “A palo seco”, “Como nossos pais e Velha roupa colorida”.
Ainda em 1976, foi com “Como nossos pais” que Belchior alcançou um patamar ainda mais alto na MPB, depois que Elis Regina incluiu a música no disco do show “Falso brilhante”, muito elogiado, transformando num clássico.
Na década de 80 ele continuava fazendo seus shows, inclusive pela Bahia, em Salvador e cidades do interior, como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Ipiaú, dentre outras. Em Jequié tinha amigos do tempo de estudante de medicina.
Em 1993, ao lançar o disco Baihuno, bateu mais tristeza, porque não teve a repercussão esperada, por falta de algumas estratégias e presença do artista na mídia, pois as músicas são de ótimas qualidades, como Baihuno, Quinhentos anos de quê, Notícia da terra, Arte final e Lamento do marginal, por exemplo.
Produção artística:
São 18 (dezoito) discos do cantor, sendo 12 (doze) LPs e 6 (seis) CDs.
Em 1999, o disco Auto-retrato, pela gravadora BMG (depois incorporada à Universal Music) foi o último, com 25 (vinte e cinco) músicas de trabalhos musicais anteriores. Há ainda uma coletânea de sucessos, lançada pela série Sempre, da Som Livre, com a faixa Balada de Madame Frigidaire.
Fez shows e apresentações por todo o país, e em Brasília, por exemplo, se apresentou algumas vezes, inclusive na Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional, dentre outros lugares importantes da cultura brasileira.
No início dos anos 2000, Belchior continuava fazendo shows por diversas cidades do Brasil, a pedido do seu público sempre fiel.
Em 2009, a imprensa noticiou um suposto desaparecimento do cantor, uns turistas brasileiros o viram no Uruguai, onde concedeu entrevista para uma emissora de TV, depois foi morar em Porto Alegre.
Processos na justiça
No processo movido pela ex-mulher, Ângela, mãe de dois filhos dele, mesmo já maiores de idade, e outra ação da mãe de uma filha de 19 anos que teve fora do casamento, buscavam na justiça dinheiro, por pensão alimentar.
Alguns pertences que ficou num flat onde passou um tempo foram doadas para doações, tendo a filha mais velha recolhido apenas os documentos pessoais e os carros foram guardados em depósito públicos por muitos meses, cujo valor do aluguel do espaço ultrapassaram o valor dos bens, ficando com o proprietário do imóvel para recuperar os pagamentos.
Além das dívidas aumentando, o seu ex-secretário particular, Célio Silva, ganhou um processo trabalhista de R$ 1 milhão, talvez porque os juízes achavam que ele era rico.
Em 2012, na cidade uruguaia de Artigas, capital do departamento do mesmo nome, mais setentrional do Uruguai, há 600 km de capital, Montevidéu, soube que não teria mais acesso às suas contas bancárias, por não pagar a pensão de Ângela, que entrou na justiça e bloqueou todos os seus saldos, e ele ficou sem renda, para pagar, sequer, o hotel onde estava hospedado com Edna há meses. Por isso, foram despejados apenas com a roupa do corpo, poucos pertences e nenhum dinheiro, tendo de viver por alguns dias debaixo da Ponte Internacional da Concórdia, entre Brasil e Uruguai.
Desaparecimento físico
A partir de 2008, ao aparecer nas cidades gaúchas e uruguaias, mostrava-se decrépito, morando de favor, usando até roupas emprestadas, deixando dívidas de aluguel e hotéis, sendo recebido em alguns locais por pena, pelo respeito que conquistou com uma carreira meteórica e de qualidade.
Com o seu desaparecimento, as dívidas foram se acumulando. Inclusive por falta de pagamento de pensão alimentícia à família. Depois de muita procura, parte da imprensa o encontrou em San Gregorio de Polanco, cidade uruguaia do departamento, distante a 140 km de Tacuarembó, banhada pelo Rio Negro, com a indignação de Edna, sua esposa, pela perseguição da imprensa.
Nesse périplo, por onde passava morando de favor, mostrava-se uma figura engraçada, contando piadas e causos da vida, desenhando e pintando quadros, deixando nos locais como lembrança.
Ao chegar em Porto Alegre, Belchior e Edna ficaram inicialmente hospedados num hotel simples no centro, pago com ajuda dos funcionários do Tribunal de Justiça.
Numa fase ainda mais sofrida, tiveram de se abrigar no Centro Infanto-juvenil Luiz Itamar, na região metropolitana, uma instituição de caridade. Naquele momento de penúria, apareceu um anjo advogado de nome Aramis Nacif, ex-desembargador do Estado, que se ofereceu para ajudar Belchior com os processos e por um mês, o casal ficou morando na casa de praia do filho de Nacif. Sem dinheiro, Edna parecia ter algum distúrbio psicológico, com um sentimento de perseguição muito grande. Naquele momento, Belchior conheceu o advogado Jorge Cabral, na casa de quem se hospedou por quatro meses, que se compadeceu com a situação daquele importante artista, e levou o casal para morar num sítio em Guaíba, com mantimentos, roupas, itens de higiene pessoal.
Em agosto 2011, morreu dona Dolores Gomes Fontenele, a mãe do artista, vítima de falência múltipla de órgãos, aos 89 anos de idade.
Problema de sua filha com um assassinato:
A filha que teve com Edna Prometheus, por nome de Isabela Menegheli Belchior, tinha como companheira a senhorita Jaqueline Chaves, mais velha do que ela quatro anos, em 2020 confessaram o assassinato de Leizer Buchiwieser dos Santos, metalúrgico de São Carlos, em agosto de 2019. Ainda bem que Belchior não teve de presenciar um trauma desse.
Final da vida terrestre:
Uma necessidade quase desesperada de mudança de vida, motivada possivelmente por um inconformismo com os rumos que sua história tomou, depois de tanto sucesso, dinheiro e inúmeros problemas pessoais e familiares, apesar de ser um bom pai e marido, ausente em situações de carreira, mas, como acontece em casos similares, passou a ser desprezado e marginalizado, ao contar à família que tinha duas filhas, oriundas de duas aventuras extraconjugais.
A tristeza levou Belchior a uma depressão, trazendo outra doença incurável, que teria culminado com um aneurisma, levando o artista para outra dimensão.
Em 30 de abril de 2017, faleceu aos 70 (setenta) anos, em Santa Cruz do Sul (RS), deixando um legado cultural importante, cada dia mais vivo em nosso tempo, pelas letras que falaram das inquietações sociais, políticas e amorosas, por toda uma geração.
Foi sepultado na terça-feira, dia 2 de maio de 2017, em Fortaleza, no Ceará, no cemitério Parque da Paz. Estiveram no enterro a primeira esposa Ângela Henman e os filhos Mikael e Camila.
Homenagens póstumas:
Uma das grandes emoções da família aconteceu num sábado, dia 27 de abril de 2019 durante a apresentação do musical “Belchior: ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”, no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, na Sala Baden Powell, em Copacabana, no Teatro Municipal de Niterói, no Theatro José de Alencar e Teatro Via Sul, em Fortaleza e no Teatro Liberdade, em São Paulo, além de outros locais.
No Rio de Janeiro estiveram presentes os filhos Mikael Henman e Camila Henman Belchior, juntamente com a mãe deles, Ângela Henman, e se emocionaram com a linda homenagem e qualidade artística do show, destacando e preservando a obra numa temporada, que foi ali iniciada e que vai passar por outros estados do Brasil, depois da pandemia da Covid-19. Uma das organizadoras do evento, Claudia Pinto, mostrou emoção ao comentar o resultado, inclusive com as presenças da esposa e filhos de Belchior.
De sensação congênere, o diretor do musical, Pedro Cadore, disse que foi um imenso prazer e um privilégio a realização do projeto, com o sentimento do dever cumprido, para que o trabalho e a história do artista sejam preservadas e divulgadas.
No livro “Viver é melhor que sonhar”, da Sonora Editora, de 2021, os jornalistas Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti fizeram um bom trabalho, escrevendo a trajetória e os últimos lugares frequentados pelo artista, em descobertas e peregrinações.
Outra homenagem importante foi o show “Coisas que Aprendi nos discos” a partir de agosto de 2021, da filha advogada e caçula nordestina dele, Vannick Belchior, que aos 24 anos estreou a carreira nos palcos.
Epílogo:
Fica aqui o registro deste pequeno amigo que esteve com ele rapidamente na década de 80, e tem todos os LPs autografados pelo homem, filho, pai, esposo e um artista inesquecível da Música Popular Brasileira, Antônio Carlos Gomes Belchior.
Nossos respeitos à imortalidade da obra dele, aos familiares e amigos.