Passada outra semana, Perebinha voltou a participar do programa na Rádio Quionda.
O LOCUTOR:
- Bom dia ouvintes! Está aqui de volta o nosso convidado especial Perebinha. Bom dia Perebinha! Hoje vamos falar de quê?
PEREBINHA
- Bom dia escutadores da rádio! Hoje quero falar do que acontece na minha escola.
O LOCUTOR:
- Certo. Estou sabendo que você está dando muito trabalho na escola que seus pais pagam com muita dificuldade. Você estudava numa escola pública e foi expulso. Você não tem pena?
PEREBINHA
- Quem tem pena é galinha. A escola era de graça e desgraça, e me botaram numa escola cara miserável. Todo mês é a maior chiada para meu pai pagar. Eu não gosto muito de estudar, mas mesmo assim a escola sempre sobe o preço todo mês. Gosto mesmo é de ficar bestando no zap do meu celular.
O LOCUTOR:
- Mas rapaz, você está na escola é para aprender. Seus pais lutam para pagar e você ainda diz que não está estudando? O que se passa pela sua cabeça. Larga esse negócio de zap. Você precisa saber ler e escrever, para ter um bom futuro.
PEREBINHA
- Eu pensei que quanto menos eu estudasse o preço da escola ia abaixando. Nessa semana quando meu pai viu o carnê e a caderneta com as minhas notas, ficou desesperado, arregalou os olhos e disse “que absurdo é esse? Perebinha você mata a gente”. Então eu disse a ele que vou estudar, mas meu pai e minha mãe não escrevem e nem lê nada. Eles só vivem com a cara no zap do celular, sem tempo para conversar nem comigo e nem com minha irmã.
O LOCUTOR:
- Seu Pestilento! Seus pais já são velhos. Se você estudasse mais, talvez os seus pais poderiam pagar a mensalidade felizes. Tomara que eles tomem vergonha na cara e passem a escrever alguma coisa também. Eles podem tirar você da escola Rego Melo Pinto e botar de volta na escola pública municipal.
PEREBINHA
- Eu não quero voltar de jeito nenhum. Não posso fazer nada. Quando a professora pediu para eu escrever o que eu mais gostava nas aulas, e eu disse que era a cor da bandeira nacional. Fui levado para a diretoria de castigo. A diretora perguntou se aquele negócio da cor da bandeira era verdade. Eu expliquei que era brincadeira, mas quando o vento batia e levantava a cortina nas pernas da professora, era verdade. Quase todo dia eu sabia a cor da bandeira nacional da professora coxuda. Tem culpa eu?
O LOCUTOR:
- Que vergonha! Um menino pestilento numa sala de aula, olhando a bandeira por debaixo da mesa da professora! Tem culpa sim. Você está na sala para estudar e não para ficar olhando o que não interessa.
PEREBINHA
- Interessa, mas ela devia deixar a cortina fechada, pois quando abre, o olho vê. A diretora me deu cinco dias de suspensão. Eu pensei que o valor da escola baixava se eu não fosse estudar naqueles dias, mas não baixou nada. Passei os cinco dias olhando o periquito da vizinha pelo quintal de lá de casa.
O LOCUTOR:
- Que é isso rapaz! Estou ficando com vergonha de você, que em vez de estudar vai olhar para as cores da bandeira da professora e o periquito da vizinha. Depois quando voltou, pediu desculpa a professora?
PEREBINHA
- Eu até que pedi, mas ela não me deu. Disse que eu ainda era muito pequeno, e eu até hoje não entendi o que ela quis dizer? Outra dúvida: minha mãe perguntou na farmácia se ela poderia tomar anticoncepcional com diarreia, mas a moça não soube explicar. O senhor sabe?
O LOCUTOR:
- Ela aceitou sua desculpa? Deixa pra lá. Sobre a diarreia eu também não sei, porque não sou médico. Quando crescer você quer ser rico sem estudar?
PEREBINHA
- Sobre anticoncepcional minha tia Tiára disse que se toma com água e não com diarréia. O senhor é burro. Para ficar rico, ouvi a professora dizer que é fácil ficar milionário se for corrupto, então pra que estudar? O senhor me ensina a ser corrupto também? Lá na escola não ensina.
O LOCUTOR:
- Não vou ensinar o que eu não sei. Eu estudei e me formei. Sou jornalista de profissão, com muito orgulho. Essa da diarreia foi uma pegadinha, não foi seu malandro?
PEREBINHA
- Se pegar na diarreia, foi. Olha, o meu tio gordo perguntou se eu quero ser assim inteligente como ele quando crescer, eu disse que se eu engordar igual a ele, não vou ter tempo para estudar e nem vou namorar ninguém. Só a minha tia gorda que casou com ele. Ele fez a minha prima Regina, mas ele tinha de fazer mesmo era um regime. Estou aprendendo com o meu pai que advogado é igual a faxineiro, porque só são chamados quando a sujeira está feita.
O LOCUTOR:
- Deu uma de intelectual com 12 anos? Legal!!! Logo vai descobrir quantos dentes tem a boca da noite, e vai entender o que o ser humano escreve no papel higiênico. Thau pessoal! Por hoje chega!!!!
Texto do livro – Rapsódia de Perebinha na Rádio Quionda - ISBN 978-65-86453-00-3
(Sempre teremos novas peripécias de Perebinha nesta coluna)