Olhar do historiador Bel Pires, mestre do Malungo Centro de Capoeira Angola, professor da UNEB-XIII e Pós-Doutor em Musicologia pela UFRJ, sobre o atual trabalho da banda feirense, Clube de Patifes.
Em dezembro de 2020, durante a pandemia do COVID-19, assisti a um incrível filme-biografia sobre o Blues. Tratava-se de “A voz suprema do Blues”, filme protagonizado por Viola Davis e Chadwick Boseman, o qual narra a história da cantora bues norteamericana Ma Rainey (1886-1939). A sensação que tive após ver o filme foi tão agradável que comentar com os amigos e amigas foi insuficiente, então resolvi escrever sobre minhas impressões acerca do filme (https://blogdafeira.com.br/home/2020/12/29/eles-so-querem-a-minha-voz-a-denuncia-do-racismo-em-a-voz-suprema-do-blues/). No último sábado (15), fui acometido por sensação semelhante ao apreciar o show “Macumba”, lançamento do mais novo álbum da banda Clube de Patifes, de Feira de Santana.
Acompanho essa banda desde os tempos dos eventos estudantis da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), ainda na década de 1990. Não sou grande conhecedor de Blues, mas agradeço a essa banda por me apresentarem esse mundo maravilhoso da música negra. Banda composta inicialmente por artistas que conheci nos corredores da UEFS, aprendi a respeitar o seu trabalho e, por conseguinte, acompanhar seus álbuns sempre com temáticas provocadoras da abstração de um jovem intelectual negro e artista da cena cultural de Feira de Santana. Foi também o Clube de Patifes influência importante para que eu lesse o universo afro-brasileiro a partir do blues feirense. Entre as aprendizagens mais significativas que tive, está enxergar as maravilhas de Exu pelas sonoridades encantadoras do Blues tocado pelo Clube de Patifes.
Crescemos e nos educamos em uma sociedade que criminalizou a fé e o entendimento das entidades espirituais negro africanas. Até hoje somos desafiados a reeducar a sociedade acerca das mazelas do racismo e, especialmente, do racismo religioso que tem associado entidades espirituais como Exu ao que é ruim e símbolo do mal. A justiça e bondade de Exu estavam na Casa Noise, em Feira de Santana no último dia 15, alegrando e iluminando nossos agressivos corações e nos lembrando da importância da ancestralidade africana em nossas formas de pensar, se movimentar e existir. “Macumba” é um álbum que atende não apenas o mercado fonográfico do blues tocado em terras tupiniquins, “Macumba” se tornará um manual de instrução/orientação para o entendimento dos valores civilizatórios afro-brasileiros que tem em Exu a “a voz suprema do Blues” que toca o Clube de Patifes.
Saudações a esses protagonistas da música negra feirense!