Em Sessão da Câmara Municipal de Vereadores de Feira de Santana, realizada no dia 24 de agosto de 2023, seria votado uma menção em honraria a mim, Gilson Souza Santana, mais conhecido no universo artístico como Gilsam, com a outorga da Medalha Zumbi dos Palmares, projeto de autoria do vereador Silvio Dias (PT). O fato é que para a aprovação do pleito precisaria de 14 votos favoráveis.
Mas quando foi se aproximando o momento da votação, grande parte dos 21 vereadores, os quais deveriam assumir a responsabilidade e o compromisso da presença na votação, foram se retirando, restando apenas 14 vereadores presentes, exatamente o número de votos que o projeto precisava para ser aprovado, entretanto UM vereador se absteve da votação.
Como já era de se esperar, a abstenção deste edil comprometeu assim a aprovação da outorga direcionada a mim a “Medalha Zumbi dos Palmares”, por reconhecimento à minha trajetória artística e serviços prestados à sociedade feirense, à luta antirracista e à defesa do exercício da cidadania das comunidades negras de Feira de Santana. Indignado e em protesto ao esvaziamento (estratégico) da plenária e à postura de um dos vereadores em se abster da votação, quando seu voto seria decisivo, o autor do projeto, vereador Silvio Dias, retirou este e os demais projetos da pauta de votação.
O projeto do vereador Silvio Dias, acredito eu, certamente fundamentou sua justificativa com base na minha trajetória de artista negro e de pedagogo que valoriza uma educação antirracista. Como pedagogo, formado pela UEFS, sempre me interessei pelas possibilidades metodológicas e epistemológicas que atendesse às demandas de uma educação antirracista, o que me provocou buscar a qualificação stricto sensu na minha área de formação.
Desta forma, depois da graduação em Pedagogia, realizei estudos de especialização em Psicopedagogia na UNEB, Mestrado em História da África na UFRB e atualmente desenvolvo estudos de doutoramento em Crítica Cultural na UNEB. Toda minha formação e produção acadêmica fora influenciada (e não poderia ser diferente) pela música, inclusive autoral, que sempre deu régua e compasso à minha vida!
Como músico atuo desde a década de 1980 como cantor, arranjador e intérprete das minhas próprias composições, tendo sido autor de algumas notoriamente destacadas por problematizar a questão social e racial, a exemplo de “Garotos de Rua”, ainda hoje permeando as memórias daqueles que foram crianças na década de 1980 e que acompanham meu trabalho artístico até hoje. A Medalha Zumbi dos Palmares seria mais um ato simbólico de reconhecimento do meu trabalho, ao que eu agradeço ao vereador Silvio Dias, mas a honraria vem do povo, esse que sabe quem é Gilsam e o que ele significa para o desenvolvimento social e cultural de Feira de Santana, nas últimas três décadas.
Ao ter notícias de que o coerente vereador Silvio Dias (PT) iria colocar em pauta uma nova votação da matéria em questão eu refleti sobre os acontecimentos da última sessão e da repercussão na imprensa local, me fazendo perceber o grau de constrangimento que sofri por uma parte da Câmara de Vereadores que decidiu se ausentar à votação, como também ao vereador que se absteve, ao qual me reservo ao direito de nem citá-lo nominalmente afim de desofertar-lhe palanque, visibilidade e holofotes, visto que, todos sabem de quem se trata, pois, este vereador já é conhecido por suas negativas acerca das matérias que envolvam grupos vulneráveis e minorias sociais como negros, LGBTQIA+ e comunidades religiosas de terreiro.
Diante de tudo isso decidi elegantemente declinar à honraria e não aceitar a indicação da Medalha Zumbi dos Palmares!
Espero que o vereador Silvio Dias (PT) compreenda minha postura e aceite minha decisão, pois não posso aceitar um ato de honraria de uma Câmara composta por membros que alguns intencionalmente se retiram da sessão para não ter que se posicionarem publicamente acerca da votação, assim como uma Câmara que se mantém silenciosa acerca das violências raciais, homofóbicas e misóginas por parte de alguns de seus membros, como já é de conhecimento de todos, todas e todes nessa Casa da Cidadania.
Obrigado!
Feira de Santana, 28 de agosto de 2023
Gilson de Souza Santana
Interrogar por quê?
Por quê interrogar?
Interrogar para quê?
Para que interrogar?
Interrogar a quem?
A quem interrogar?
Por quê?
Para quê?
A quem?
Vamos interrogar
Vamos interrogar
Vamos interrogar
Não adianta disfarçar
Com discurso da terra de ninguém
Com a borracha da história
Para nos apagar
A voz do meu povo afro-atlântica
Esse sistema não vai nos calar.
Em todos os lugares onde pesa a mão da opressão
Vamos plantar versos brotando interrogação
Por quê?
Para quê?
A quem?
A ausência e a abstenção,
A covardia da omissão
Esses venenos não nos calarão.
Se a minha cor é o seu argumento
Para a exclusão
com violência na espreita
À espera da ocasião
Agora não trago perguntas. Faço afirmação:
Dreads, rastas e tranças
Trazem a luta de travessias e o sonho da revolução
Vamos subverter a doentia relação,
Decolonizar para desconstruir
Esse estado racista
Faminto de opressão.