[...]Observemos como Sales Barbosa ( 1862- 1888), o poeta Romântico feirense, de carne e osso, parece oscilar entre o “nariz” escondido do personagem Cyrano de Bergerac, do dramaturgo francês,. Edmond Rostand, do século XIX, e o “nariz” do vaidoso Cyrano de Bergerac, da guarda real, também escritor, do século XVII.
Assim, Cristovam Barreto, poeta e rábula, de Oliveira dos Campinhos, o traduz no posfácio do livro Cavatinas (1885).
Segue a descrição do amigo, nela, flagramos Sales Barbosa, esguio, magríssimo, um corpo mais próximo, apresentando-nos um nariz que parece sentir-se percebido, tocado, examinado, reconhecido pela literatura Romântica e pela memória feirense:
[...] Agrada-me vê-lo surgir longo, descarnado, impassível, alardeando um nariz que lhe ocupa soberbamente o terço da parte superior do corpo, desde a sutura coronal à espinha externa do mento [...]. Não nos ocorre ter visto nariz igual, mais expressivo nobilitar a face de um rapaz [...], Exótico no traje, Sales parece querer assim, o vaidoso, disfarçar o que alguns supõem as incorreções de seu físico, por um estudo de efeito mais ou menos atenuante. Em nossa opinião corre por conta dele: o feio, que se amaldiçoa - “de não ser mais feio ainda”. (BARRETO APUD BARBOSA, 1885, p. 138).
Cristovam Barreto tece, no posfácio do livro a descrição do amigo contemporâneo, abraçado, sentindo de alguma forma a sua presença: “[...] Insistimos nisto com muito maior fundo de razão do que se imagina. Resumo do cérebro, o nariz acentua Sales e causaria espasmos de admiração gostosa a Vernet, pintor e frenólogo”. (BARBOSA, 1885, p. 138).
O amigo Barreto, crítico, rábula, também poeta, praticamente nos traça a caricatura do autor de Cavatinas. Ao expor de forma exagerada o tipo físico do poeta, também se revela Romântico, um provocador que utiliza das lentes distorcidas.[...] |