Ano eleitoral é uma temeridade para as atividades que dependem de algum apoio governamental, como é o caso da produção teatral em uma cidade do porte de Feira e que, a rigor, tem uma população de médio poder aquisitivo, com a ressalva de que a maioria dos que detém algum poder econômico é de origem humilde, não tendo uma formação que os conduza espontaneamente as salas de teatro. Assim é imperativo o apoio dos poderes públicos para possibilitar a formação de plateia, com intuito de que, em futuro não muito distante, haja possibilidade de poder ser dispensada a tutela pública.
A lei pelo zelo, ao exercício honesto da gestão pública, proíbe uma série de benefícios cedidos pela Fazenda Pública durante um período nos anos eleitorais, o que é correto, mas que prejudica sobremaneira algumas atividades que não tem objetivo eleitoral ou eleitoreiro. É certo que os operadores das artes cênicas, em geral, fazem parte da parcela mais consciente da população e dificilmente permitiria qualquer armação com fins eleitorais em troca de benefícios.
Feira desde há muito, tem no teatro uma das formas de expressão artística mais pujantes da nossa cidade, nas décadas de sessenta e setenta as atividades desenvolvidas pelo Meta/Scafes, TEF e Team mostravam com clareza a vocação das artes cênicas em nosso meio, pois se alguns reproduziam o teatro convencional praticado pela maioria das companhias teatrais Brasil a fora, o Meta/Scafes mergulhava nas produções experimentais, com profundas viagens ao vanguardismo. Na verdade os meninos de então davam vivas a criatividade artística da época, talvez até sem ter consciência da extensão do que estavam criando, e sem saber que habilitava nossa produção feirense com possibilidade para ser apresentada em qualquer lugar do planeta em que se falasse português.
Mesmo nas épocas mais pobres de criatividade, quando alguns abnegados cumpriam tabela montando peças convencionais e comédias rasgadas apenas para preencher as pautas dos teatros, surgiu no cenário feirense uma nova autora/diretora de nome Suzana Vega que além de lotar as casas de espetáculo arrebatou um prêmio Braskem divulgando o nome de Feira de Santana pelo Brasil a fora...
Atualmente a Cia CUCA de Teatro tem feito um trabalho maravilhoso promovendo o "Domingo Tem Teatro para Criança" e dando suporte a iniciativas como o Fenatifs e outros tantos projetos através de uma equipe de abnegados e criativos profissionais. Também os Grupos "Conto em Cena" e "Cordel em Cena" tem sacudido o movimento teatral da cidade com talento e criatividade de seus promotores e participantes de um modo geral. Além desses trabalhos realizados por grupos vinculados ao CUCA, a Fundação Egberto Costa tem promovido a vinda de uma série de espetáculos que mantém o público aficionado sempre com uma opção de espetáculo todas as semanas. O Projeto formação de plateia "Circuito Cultural Belgo Bekaert" que a cada 15 dias acontece aos sábados no Teatro da CDL tem enriquecido nosso cenário de espetáculos, possibilitando aos grupos feirenses assistirem o que se faz em outras praças, mantendo atualizados os artistas feirenses e dando mais uma opção as plateias teatrais de nossa cidade.
Por tudo que tem acontecido atualmente no teatro feirense, a interrupção do apoio dos poderes públicos nas áreas que sobrevivem com auxílio de projetos oficiais nos preocupa e incomoda. Enfim, é fundamental trabalharmos no sentido de evitar que as pequenas interferências ocasionais da política perturbe a trajetória ascendente do teatro feirense que atualmente vive um de seus grandes momentos.
O projeto "Domingo Tem Teatro" da Cia CUCA ainda não divulgou a programação do segundo semestre, mas por tratar-se de um projeto vinculado ao CUCA esperamos que não sofra as interferências da eleição municipal.