Por ato de puro autoritarismo da parte dos representantes da Igreja Católica, com anuência do Prefeito de então, que não nos ocorre agora o nome do cidadão, sob a alegação de estar havendo muita violência durante os festejos (como se naturalmente esta cidade não tivesse policiamento competente), foi suspensa, de forma abrupta, as manifestações populares do "Bando Anunciador", "Lavagem da Igreja da Matriz" e "Levagem da Lenha", para alguns mais chegados ao clero, principalmente por se tratarem de festas profanas. Engraçado, festejavam a aproximação dos festejos da padroeira da cidade.
Cada uma destas manifestações tinha características próprias, com os detalhes de que o Bando e a Levagem da Lenha aconteciam apenas em Feira (pelo que temos notícias), o Bando começou como uma manifestação espontânea de moradores boêmios da cidade, que passavam a noite na farra, e bem cedo já haviam organizado charangas que saiam pelas ruas do centro, anunciando o dia da padroeira e encerravam na Praça da Matriz. A população adotou a brincadeira e alguns grupos de bairros passaram a formar suas charangas e irem ao encontro do grupo de boêmios durante o trajeto. A levagem da lenha decorre da época em que Feira não tinha luz elétrica, e mesmo quando passou a ter por motor a óleo desligava por volta de meia noite, de modo que a população da periferia levava, a lombo de burros e jegues, cargas de lenha para formarem, no princípio duas fogueiras, uma de cada lado da Igreja e posteriormente apenas do lado esquerdo, pois o lado direito foi arborizado. As fogueiras eram constantemente alimentadas até o final da festa que era de nove dias (novena, como é comumente denominado). Levar a lenha não demorou a se tornar também um ato festivo e regado a charangas e batucadas, com isso, surgiu a ideia de enfeitar os animais que levavam a lenha com papel crepom colorido, o que gerou a expressão: "Mais enfeitado de que jegue (ou burro) em dia de levagem"; que com o tempo se tornou, "Mais enfeitado de que jegue (ou burro) em dia de lavagem", que na verdade é incorreto, pois em dias de lavagens nunca se enfeitou os animais. A lavagem das Igrejas com água de cheiro é um costume que vem dá época dos escravos e que é praticado praticamente em toda Bahia. Certamente para agradarem as classes dominantes, de modo a permitir que os negros e as classes mais pobres pudessem participar dos folguedos.
Fato é que a truculência de alguns fanáticos e retrógrados acabaram com estas manifestações, tendo o Bando sido resgatado em 2007 por Ação do CUCA - Centro Universitário de Cultura e Arte, órgão da UEFS e agora por uma iniciativa popular tivemos a retomada da "Lavagem da Igreja Matriz", e temos a possibilidade de voltarmos com a "Levagem da Lenha" muito em breve.
Esse evento foi uma iniciativa de um grupo de feirenses que elegeu uma comissão composta por Renildo Brito, Georgison Rios, Iramar Lima e muitos outros colaboradores, como era a forma original dos folguedos em homenagem a padroeira de Feira de Santana.
O Viva Feira acompanhou todo o trajeto da lavagem e realizou registros em fotos, que foi transformado em um álbum anexado ao final desta matéria e um vídeo que será disponibilizado na primeira página do nosso site.
Esperamos que o amadurecimento dos últimos anos tenha demonstrado que não se deve sufocar os costumes e tradições de um povo, e vida longa a LAVAGEM DA IGREJA DA MATRIZ.