A Bata de Feijão é uma atividade originária do campo e desenvolvida, principalmente, nas regiões de minifúndios, por características econômicas e sociais. O plantio de milho e feijão na nossa região é sazonal, aproveitando sempre os períodos de chuvas e estiagens, o que culminou por induzir ao costume e a prática das batas de milho e feijão.
Feira de Santana está localizada no que costumamos denominar no Portal do Sertão, região que se avizinha a duas zonas distintas, litoral e sertão, proporcionando um clima a nossa cidade que é considerado como tropical quente, que pode apresentar características de transição para o semiárido devido exatamente à sua localização na zona de transição entre o litoral e o sertão da Bahia. As temperaturas são elevadas durante o ano no período do dia, e agradável durante a noite devido a altitude. Estes fatores obrigam aos moradores da zona rural, para plantar, a obedecerem cegamente o período das chuvas na região que é irregular, e segundo as observações dos entendidos, ocorre, mais comumente, entre março e junho, com todas as místicas que envolve o dia de São José (19 de março) e as canjicas e guloseimas de milho dos festejos de São João e São Pedro.
A característica da região e os minifúndios naturalmente induziram a necessidade de criarem uma alternativa para não perderem a produção de milho e feijão para os gorgulhos nos paióis, sem debulhar. As plantações em pequenas propriedades é feita pelas próprias famílias, mas após a secagem, para debulhar, o trabalho é mais pesado, o que induzia a mobilização de vizinhos e amigos em “adjuntórios”*, ou seja, durante os dias em que não trabalham no campo, se reuniam, nas noites, nos finais de semana, nos terreiro de cada um deles para, com cacetes, debulharem o feijão ou milho. As batas, milho e feijão, são separadas até em virtude das colheitas que ocorrem em períodos distintos, assim como, o período de secagem também e diferente.
Os grandes fazendeiros da região mantinham o hábito de, na época de plantio de milho e feijão, cederem áreas de terra para que plantassem milho e feijão, era uma forma barata de limpar áreas de mato para o plantio de capim posteriormente. Havia duas formas de cessão* da área, apenas para receber de volta a terra limpa, ou de meia (como no tempo dos feudos), metade para os plantadores, metade para o dono da terra. Nestes casos, se tornou comum, também, as batas maiores, até promovidas pelos donos da terra com interesse em apurar seu quinhão.
Os eventos criaram forma características, tornaram-se costume e posteriormente tradição, induziram com naturalidade que surgissem cânticos a partir de improvisações enquanto sovavam o feijão e/ou o milho. Alguns batedores passaram a preparar antecipadamente cacetes especiais para as Batas que aconteciam anualmente, logo os donos das colheitas passaram a oferecer uma cachacinha aos batedores, e alguma comida, pois eram as mulheres que tinham a função de peneirar os grãos para separar terra durante a Bata.
Com a mecanização dos plantios e das colheitas, as batas foram diminuindo e hoje acontecem como uma manifestação cultural da zona rural de Feira de Santana. Alguns Grupos de divulgação Folclórica incluíram, já há algum tempo, em apresentações correográficas, mas apenas com certo didatismo, que por melhor que seja é mero arremedo de uma bata verdadeira.
Buscando salvar a tradição, o teimoso Asa Filho realizou um evento com uma simulação de uma bata, no seu espaço na Cidade da Cultura, com muito mais fidelidade uma verdadeira Bata de Feijão do que as apresentações coreográficas habituais.
ASA FILHO, A CIDADE DA CULTURA E A PELEJA PELA MANUTENÇÃO DE NOSSA HISTÓRIA A TRADIÇÃO
Em seu release de divulgação promete retratar com a maior fidelidade possível o evento que marca o ritual de separação dos grãos do feijão da vagem após a colheita. Nesse evento, os agricultores se reúnem para bater nas vagens secas com varas, enquanto cantam canções de trabalho, e as mulheres usam peneiras para limpar os grãos. A prática, que ocorre tipicamente em maio e junho, celebra a boa colheita e preserva um modo de vida coletivo.
No feriado da independência, 7 de setembro, a partir das 14h, tem tradição, memória e cultura popular com os Caceteiros e as Biatadeiras de Tiquaruçu.
SERVIÇO:
- Domingo 07/09/2025, às 14h00, acontece a 2ª Bata de Feijão da Cidade da Cultura!
- A entrada é 1 kg de alimento.
- O projeto da Bata na Cidade da Cultura foi contemplado nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Bahia e tem apoio financeiro da Prefeitura de Feira de Santana, por meio da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura – Governo Federal.
* AGREGADO = No verbete significa: que está junto ou anexo; reunido. - Na região = Denominação comum a moradores de fazendas, que trabalhavam como empregados ou esporadicamente, mas que residiam em casas franqueadas pelos fazendeiros. Em virtude de rigor da Justiça do Trabalho em reconhecer vínculos que até não existiam, a maioria dos fazendeiros após conseguir desocupar as casas, mandaram derrubá-las.
*ADJUTÓRIO = No verbete significa um auxílio, uma ajuda ou um socorro. Na região e no campo = Se caracteriza nos casos da batas, na formação se grupos de pessoas que se reúne para ajudar gratuitamente, como um mutirão, algumas regiões denominam apenas de “djuntórios”.
* CESSÃO = Os acordos para cessão de área para plantios variavam. Poderia ser para um ou dois plantios, em alguns casos o cessionário ao terminar a colheita já semeavam o capim.