RAYMUNDO LUIZ LOPES

Nasceu em Salvador/Ba. Graduação - Licenciado em Pedagogia pela UFBA. Pós-graduação na área de Educação (UFBA). Ex-professor do ensino de 1º e 2º Grau. Professor Titular do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e um dos fundadores da universidade. Criador e Editor da revista Sitientibus (www.uefs.br/sitientibus). Coordenador do Programa Interuniversitário para Distribuição do Livro (PIDL). Membro da Academia Feirense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana. Editou quatro números da revista desse instituto. Ex-professor de flauta doce do Seminário de Música de Feira de Santana. Tem formação em Terapias Holísticas e é professor da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), desenvolvendo vivências na oficina - Tai Chi Chuan/Caminho para a Construção do Equilíbrio. Poeta, contista, ensaísta, tem vários trabalhos publicados em jornais, revistas e pela internet. Participou da Antologia Poética/Pacto de Gerações/Salvador/1976. Lançou, em 2002, o livro de poesias -Velas de Arribação. Organizador do livro A magia do silêncio de José Maria Nunes Marques. Vice-Presidente da Fundação Carlo Barbosa. Membro Titular de Literatura no Conselho Municipal de Cultura.

O ENCONTRO OU O QUE ESTAVA ESCRITO EM ALFA E ÔMEGA

"Disse também Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança,
o qual presida aos peixes do mar, às aves do céu, às bestas, e a todos os répteis, que se movem sobre a terra, e domine em toda a terra." (Gênesis, 26)


Não sabiam de outros. Dois. Tão-somente dois. E, seguramente, não se tinham visto antes. Nem atinavam, naquele momento, para seus lados, posições. Ao derredor, nesgas de um teimoso verde.
Ao léu da vida, parecendo crescer, nuvens, cinzas e brasas. Contudo, eles, os dois, puseram-se determinados.
Olhar fixados, um no outro. Mirando-se, ameaçadoramente, apanharam, ambos, armas que abandonadas se encontravam -, modelando, cada um, o seu objetivo.

Movimentando-se lenta e rigidamente, ora em círculo, ora em diagonal, assim ficaram, naquele teatro, o correspondente a sete horas matutinas e a sete horas noturnas.
Certo instante, baixou, o mais alto, sua arma, seguido, de logo, pelo mais baixo.
Devagar aproximaram-se. Respiraram-se. Corações batendo, peito a peito. Tocaram-se. Sentiram-se -, de carne e quentes. Apertaram-se - mãos e braços. E, confusamente, murmuraram. Quase ao mesmo tempo, sorriram.
Depois, num átimo, gargalharam. Igualmente, abraçados e gargalhando, retiraram-se ao encontro dos deuses de seus assentimentos.
Lá, no (oni)reduto - paradisu -, ergueram seus copos de whisky e de vodka e brindaram-se.
O primeiro, quis com soda. O segundo, com coca-cola.

HAICAIS


Natal
nessa santa noite
as poucas lembranças Dele
o banquete é farto

 

Luzes de Natal
nas promessas do comércio -
Jesus na vitrine!

 

 

 

 

 

Momentos a sós
no quintal daquela casa -
meu pé de araçá.

 

 

 

 

Efêmero tom
No intervalo do tempo.
Céu de outono.


 

Olhando o sol
a lua de verão ri.
Amor ano-luz.

 

 

Duas capivaras
saindo d'água não vêem
o vil engenho.

 

 

Descendo em véu
a cachoeira lava
o rastro do homem.


 

Oiro repartido.
Dez mil nuvens de viés
e o sol no poente.

 

 

De onde vem o vento?
Passarinho tem segredos
Na aurora do tempo.

 

 

O orvalho caindo
nos braços da primavera
corações em flor.

 

 

 

 

 

Ah! na noite espessa
vagalumes encandeiam
as veias das florestas.

 

 

 

Na barbearia escuto
incontáveis historinhas.
A mosca no espelho.

 

 

 

 

Beirando o Jacuípe
coqueiros altos, curvados -
plunc! Ah, que susto!

 

 

 

 

Frio e densa neblina
aquietam toda a cidade -
na ponte, mendigos

 

 

 

Neblina sem trégua
e as flores se recolhendo -
um sapo cochila.

 

 

CARROSSEL
(A Fred, Guta e Lia)

Cavalinho azul, branco e preto
mensageiro dos raios do sol
e dos raios da lua.

Cavalinho travesso
cavalinho multicor.

Cavalinho veloz que tão rápido passa
e marca o homem-menino.

Ah! Cavalinho
outrora branco, azul e preto
hoje lento e incolor
cativo do prado silencioso e triste.

Cavalinho preto, azul e branco,
a criança,
em que universo ficou?
a sua fantasia,
em que dimensão se perdeu?

AUTOESTUDO

A aranha está à espera.

E o poeta
levado por caminho
incerto
por certo caíria
na teia mortal.

Porém
em seu vôo contínuo
busca constante
de Ser
ele se encontra.

Seus caminhos
de vida
(re)aparecem
espiralados
cristalinos.

E o poeta
renasce
em pleno vôo
longo
e calmo.

Ao longe
a aranha agoniza.


LIMITE

Sou amigo do tempo
com ele brinco
numa lúdica magia
entre perdas e ganhos.
Sou amigo do tempo
que brinca
chora e passa.

Passa etéreo
e no imenso drama
de interrogações
teses
teorias
eu me faço
me desfaço
e quando dou por mim
estou no fim.

O tempo?!

continua

TEMPO...!!

POEMA PARA A MENINA ISABELLA NARDONI


Um passarinho, inocente mensageiro,
hoje, bem cedinho,
anunciou
a festinha de aniversário
da graciosa menininha.

Esperança nas asas
e um ramo de rosas no bico
viera, num vôo suave,
de um bosque iluminado
por brilhantes estrelinhas.

Uma voz chorosa lhe disse
das tristes sombras
que cerraram os olhos
da menininha
e da súbita infelicidade
que fez tombar
as seis velinhas.

À luz da aurora,
o colibri avista
a morada terrena
de um anjinho
e põe, sobre ele, o ramo de rosas
e lágrimas lavam a laje fria.

Como num sonho,
no dorso do passarinho,
a menininha se distancia
rumo ao bosque sagrado
onde as crianças se eternizam.

RISO E PRANTO DA CATADORA DE LIXO, MARIA LUIZA


RISO – Os padecimentos por que passara jamais a desanimaram. - persistia na batalha da sobrevivência. Mantinha a esperança de dias melhores. Guardava, no âmago, a alegria. Algum dia poderia expressá-la fora da prisão do monturo, onde Maria Luiza, analfabeta, tirava, a duras penas, o seu sustento.
Quando soube que o seu filho, Alcides, primeiro lugar entre os alunos das escolas públicas, tinha passado no vestibular de Biomedicina, na Universidade Federal de Pernambuco, liberou uma infinidade de risos. Esses, aprisionados, quem sabe, desde a sua mísera infância, ou já no ventre materno.
Num raro momento de felicidade, os risos afloraram, dela e do seu querido menino que viu seus esforços coroados de êxito. Aliás, o jovem aluno universitário nunca perdeu o sorriso, mesmo levando no bolso, deglutindo na mesa, a tristeza e o vazio da miséria. Gente invisível, até então, o país passou a conhecer esses excluídos dos bens da vida, reverenciou-os e os expôs como símbolos.
Mas, o que importava deveras para a mãe de Alcides era vê-lo mais feliz, completamente feliz com a realização de seu sonho, bem próximo - formar-se, este ano. Ah, quem não sabe sobre o contentamento da mulher em parir e cuidar de um filho??!!


PRANTO – Alcides do Nascimento Lins (22) não foi fabricado, ele se construiu. Morador da Vila Santa Luzia, na Torre, Recife, tornou-se um símbolo também para as outras mães da localidade. Possivelmente, alguma delas disse, ou diria: “Ele é um exemplo para os nossos filhos”.
Em poucos segundos, duas balas, tão pequenas, mas, certeiras e mortíferas, mudaram o curso do futuro biomédico.
Em setembro vindouro, a primavera não será a mesma para colegas, familiares de Alcides, principalmente, a genitora dele e outras sensíveis pessoas conhecedoras da trágica história, comum nesses tempos.
A catadora de lixo se produzia, se arrumava, na expectativa da celebração do menino que saiu de seu teimoso útero e que, agora, tenro adulto, pretendia exercer dignamente a sua profissão e, assim, autorrealizar-se.
Não se preparava, obviamente, para tamanha dor, a perda do filho. Existe alguma outra maior?
O pranto toma assento no seu rosto de mãe.
As lágrimas descem pelo combalido corpo de Maria Luiza e vão juntar-se às das outras mães.
O rio de choros cresce inundando a cidade.

Ter, 16-Mar-2010 1:46

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