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AS AVENTURAS DE PEREBINHA - Episódio IV

No velório
Publicado em: 05/08/2021 - 17:08:31
Fonte: João Bosco da Silva


Chegou outro sábado, e novamente Perebinha foi convidado para participar do programa matinal na Rádio Quionda, por causa da alta audiência da semana anterior.

O LOCUTOR:

- Bom dia amigos, hoje está aqui de novo o convidado Perebinha, filho de Pereira e dona Binha.

PEREBINHA

- Olá seu locutoreiro! Estou aqui e hoje eu vim falar de um assunto triste, porque fui num velório de uma amiga de mãe. Antes eu vi na esquina a bagaceira.

O LOCUTOR:

- Sou locutor e não locutoreiro. Já lhe expliquei. Que bagaceira foi? Um acidente? Muita gente morta? No enterro você não entendeu o quê?

PEREBINHA

- A bagaceira não foi acidente, foi um senhor fazendo caldo de cana e jogando bagaços de cana na rua. Fui ao cemitério e nunca tinha visto tanta gente morta. Porque o povo se arruma, como se fosse para uma festa, se depois eles vão morar lá também?

O LOCUTOR:

- É um local onde vão sendo colocadas as pessoas que Deus chamou para o Reino. O que você queria que tivesse lá? As pessoas vão arrumadas porque têm respeito pelo lugar onde os mortos descansam. Muita gente fica triste e chora. O que você achou quando viu tanta gente levando para descansar uma senhora velhinha amiga da sua mãe?

PEREBINHA

- Não achei nada. Deus me livre! Se descansar é ficar daquele jeito, quando crescer quero viver cansado. Lá no cemitério já tinha gente falando de coisas da velha que ia ficar para cada um deles. Tinha até gente discutindo, O povo gasta tanto dinheiro com beleza lá dentro nas covas, que eu não entendo.

O LOCUTOR:

- Pois é. Tem gente que acha de fazer homenagem com túmulos bonitos e caros. Ali é o fim da vida. Eles enterram gente, para virar semente. O defunto ali está indo para o céu. O que você não entendeu?

PEREBINHA

- Não entendi nada! A gente é semente de quê? De nós vai nascer o quê? Um pé de quê? Deus me livre! Minha tia disse que todo mundo vira pó para ir pro céu. Se o céu é para cima, como eles sobem dentro do buraco da terra. Defunto tem asas?

O LOCUTOR:

- Tenho de concordar dessa vez. É complicado. Mesmo depois de velho, a gente não entende para que lado é o céu. Ninguém tem asa.

PEREBINHA

- Não sei também quantas pessoas cabem ali dentro do caixão. Eu ouvi uns gritarem: “vai com São Francisco, com São Sebastião, com Santo Antônio, com São Miguel e outros que eu não lembro. Outro dia seu Tonho da mercearia brigou com Zé do rolo e queria que ele morresse, e ele falou: se eu morrer, quem vai me dar o buraco?

O LOCUTOR:

- Vixe! Embolou. Nessa briga não me meto. Lá no buraco só cabe uma pessoa. Esse negócio de ir com outras pessoas é o modo de dizer. Não vá mais lá.

PEREBINHA

- Então por que gastam tanto dinheiro com caixões caros, roupas de primeira e com flores ali dentro, se a pessoa morta não pode mais viajar e nem cheirar?

O LOCUTOR:

- Vixe! Você está me deixando tonto. É muito complicado mesmo, e tudo que se faz se paga e tudo é muito caro para enterrar qualquer pessoa. Parece que você entende mais dessas coisas que eu.

PEREBINHA

- Não entendi por que um pastor falou palavras da sua igreja e o padre falou de outras coisas diferentes, todos vamos para o mesmo buraco? O buraco deles não é igual? Por que tem religiões diferentes, se Deus é o mesmo? Um mais calmo disse: “Tudo que eu falo você pega e me ataca”. Eles queriam brigar?

O LOCUTOR:

- Vixe! Agora chegou! Não vamos falar aqui de religião, de buraco e nem de atacar ninguém, pois tem gente nos escutando de muitas religiões. Se não quer perguntar, então cale-se, seu pestilento!

PEREBINHA

- Peraí seu radioleiro! Pestilento eu não sou e nem quero ser. Ouvi falar que coveiro é quem cava cova. Pedreiro é quem quebra pedra. Padeiro é quem faz o pão. Relojoeiro é quem conserta relógio. Se for assim, quem faz o chiqueiro, é chico?  

O LOCUTOR:

- Não sou radioleiro. Sou locutor. Cale-se! Cale-se! Você está me deixando louco, seu pestilento. Sei lá! Vai perguntar aos coveiros e para os chiqueiros!

PEREBINHA

- Tem gente que fala que morre e não morre. Quero dizer, de sono, de fome, de inveja, de amor, de saudade. Ninguém desses são enterrados. Pestilento é que eu não sou. O povo fala que tem vida depois da morte, mas ninguém nunca voltou para contar. Não vou dizer quem é, mas conheço gente que já morreu e nem sabe.

O LOCUTOR:

- Também conheço. A vida está sempre no começo, e quanto mais você pensa que sabe, mais vai ver que não sabe nada, por isso seja humilde e respeite a opinião de quem faz o bem, para que ainda tenha tempo de recomeçar a beber da fonte do saber e chegar bem ao fim. A morte é o final de toda a busca, assim falou Zaratustra. A morte da felicidade incomoda e a da falsidade perturba, mas somente a verdade prevalece viva. Thau pessoal!!!!

Texto do livro – Rapsódia de Perebinha na Rádio Quionda - ISBN 978-65-86453-00-3

 

(Sempre teremos novas peripécias de Perebinha nesta coluna)




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