Enfrentando uma enorme fila num dos bancos da cidade, vi a galera “quebrar o pescoço” num esforço danado para olhar o espécime feminino que se postava um pouco ao lado, a conversar animadamente com um dos funcionários daquela agência. Seu vestido cavado projetava uma coxa volumosa e convidativa aos mais infinitos prazeres que um homem enlouquecido de paixão possa ter. A parte superior do vestido mostrava um decote para lá de generoso, que ao menor gesto para frente desnudava-lhe o busto. Sua maquiagem perfeita mais parecia coisa de cinema, enquanto que a cabeleira, vasta e bem tratada, mostrava-nos todo o esmero que aquela figura dedicava à sua beleza e ao seu visual.
Todos os homens presentes naquele banco e naquela fila “quebravam o pescoço” satisfeitos, e sem a menor cerimônia, para olhar aquele monumento construído pelos deuses infernais da beleza.
A rara escultura de carne e osso tinha plena consciência de que era o centro de todos os olhares. Sabia o quanto era apetitosa e bonita. Quantas e quantas vezes a sua beleza fez parar o trânsito, por pouco não provocando acidentes de proporções sérias. Empinava cada vez mais a ponta do nariz, de quando em vez, dando uma rápida olhadela pelo canto do olho, gozando intimamente com as expressões de todos nós, homens, que babávamos boquiabertos.
Eu fiquei ali a me perguntar: já pensou se todas as mulheres do mundo tivessem a plena consciência de seu poder de sedução? Quantas e quantas vezes já contemplei homens fazendo cenas e coisas absurdas, tudo em nome do mais absurdo dos sentimentos: o amor.
“Todas as cartas de amor são ridículas e são ridículas porque são cartas de amor”.
Ainda bem que as mulheres não têm consciência do seu poder. Mas, voltemos para a fila no banco...
De repente, eis que em meio ao barulho das máquinas e dos burburinhos e comentários sussurrados dos que estavam na fila, surge de repente, e meio que desapercebida, uma menina de aparência simples, e encantadoramente linda em toda a sua naturalidade. Não havia nela uma roupa de butique. Nos seus cabelos, não se notava o fino e caro tratamento dado nos salões de beleza e no seu rosto sequer pairava o mínimo sinal de maquiagem. Aquela mulher era realmente linda. E todos, feito autômatos, desviaram o olhar para aquela que sem artifício algum era naturalmente bela.
Sua boca e seus olhos pareciam terem sido feitos à mão. Havia em seu semblante um misto de pureza e ternura que transparecia nos menores gestos.
Alguém na fila a reconheceu. Trocaram saudações. Ela abriu um sorriso. Pareceu ainda mais linda e encantadora.
Continuávamos na condição em que sempre se encontrou o homem diante da beleza feminina: boquiabertos, vencidos, entregues, dispostos e fazer qualquer coisa por um toque de mão, um sorriso, um beijo, uma noite de amor...