Nezim era um sujeito bacana. Muito bacana.
Às vezes tomava umas canas (e quem não toma?), falava algumas bobagens (e quem não fala?), comprava fiado e esquecia-se de pagar (também, onde já se viu vender fiado a Nezim?).
Nada que pudesse manchar a boa pecha que sempre o acompanhou. Era bacana, continuava bacana e ponto.
Não sabia o próprio nome. Desde sempre Nezim, que poderia ser de Manuel (Manuelzinho, Manezim, Nezim...) ou não. Poderia ser qualquer coisa, pois entre os seus amigos havia um cujo nome era Policarpo e o apelido Beleu.
Nezim era bobo, porém bonito que só vendo. As mulheres ficavam loucas com ele. Apesar de casada, a vizinha Dona Edileuza não resistiu. Usou Nezim no mato e na cama. Sujeito sempre bacana, ele apenas se deixou usar.
Nezim achou bom, não era tão bobo assim. Mas tomou umas pingas a mais e falou o que não devia. O marido de Edileuza, que era um sujeito machão e valente, ficou sabendo de tudo. Esse povo machão quando se torna corno fica mais valente ainda.
Aí, pecado dos pecados, castigo dos castigos, maldade das maldades, mandou cortar o mal pela raiz e castrar Nezim.
Carregaram o coitado para o hospital. Os médicos o salvaram a vida, mas os equipamentos tiveram perda total. Quando soube da tragédia, Nezim, bacana que só ele, nem chorou. Não xingou ninguém, não pensou em vingança.
Entendeu o drama, baixou a cabeça e morou na filosofia – melhor lugar para se morar:
– Menos um problema.
Que sujeito bacana, o Nezim.