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DALRI

(HISTÓRIAS QUE O RIO NÃO CONTOU)
Publicado em: 11/09/2014 - 18:09:41
Fonte: Milton Brito


    O Rio de Janeiro é uma cidade mágica. Nela você encontra maravilhas, sonhos, alegrias, tristezas e o caos. Pessoas que se aproximam, que se distanciam, que se amam e se odeiam, que se buscam e se perdem, a cada década, a cada ano, a cada mês, a cada dia. Neste vai e vem, criou-se o mito da divisão territorial que caracterizam as pessoas, como sendo da zona sul e as do subúrbio (zona norte). O marco divisório é o “Túnel Novo” de Copacabana. É como se você atravessasse o túnel do tempo. Antes dele, uma cidade que trabalha, com princípios familiares rígidos, com religiosidade, clubes sociais, colégios tradicionais, namoro e casamento. Após, (zona sul) a vida noturna, a boemia, a orgia e a libertinagem. Dizem os moradores mais antigos, da década de 30, que este fenômeno aconteceu, depois que Filinto Muler, Chefe de Polícia do Rio, no Governo Vargas, à época da Capital da República, quando da Revolução de 30, nos anos seguintes, fechou o “Mangue”, que ficava nas imediações da Praça Onze, provocando o deslocamento do baixo meretrício para a Zona Sul, mais especificamente, para Copacabana. Verdade é, que, da noite para o dia, esta região se transformou no polo artístico e boêmio, de lindas mulheres noturnas, que atraíam pessoas de todo o país e do mundo. Para ali aportavam, ricos empresários, políticos, comandantes e marinheiros, mesclando com a intelectualidade, que a tudo assistia e registrava.
    Em meio às luzes da ribalta, surge, Dalri, vinda de algum lugar do subúrbio, para as noites cariocas. Mulher belíssima, morena, com 1,80 metros de altura, de corpo escultural e semblante calmo, a espalhar o desejo da sua companhia, mesmo que fosse para um simples jantar. Vivíamos o final dos anos 50, início dos anos 60. Copacabana tinha as melhores casas noturnas, com show ao vivo, com o desfile do melhor elenco de cantores, cantoras e músicos, para os frequentadores da mais alta classe social, que transitava entre a intelectualidade, a polis, damas e meretrizes. Dalri foi uma delas, mas, com muita elegância e discrição. Por ter frequentado várias boates, conheceu uma ex-proprietária de casa noturna, com uma agenda, registrando inúmeros senhores abastados, que lhe remunerava regiamente, em troca de apresentações de belas mulheres. A conhecida “cafetina”. Dentre os clientes, havia um alemão, rico empresário, que uma vez por mês, promovia um jantar para políticos influentes, nos melhores restaurantes de Copacabana, levando em sua companhia a colossal Dalri, que se portava como uma Lady, embora, disfarçadamente passasse o seu cartão com telefone, para alguns escolhidos, deixando a sua agenda repleta, no decorrer da semana, tudo controlado pela cafetina, que, com as comissões recebidas, mantinha um duplex na Avenida Atlântica, por onde desfilavam, Dayse, Margot, Marli, Suely, Vivian, Mayra e tantas outras beldades. Dalry não assumia nenhum compromisso sério, não queria se prender a compromissos caseiros, muito menos a possibilidade de ter sua própria prole. Morena, dessas que parece que o tempo não passa, continuava belíssima, deslumbrante e desejada. Inúmeras conquistas, dia a dia, distribuía prazer independente de idade, só não se imiscuindo com pessoas do mesmo sexo, por uma questão de opção. Preferia os homens. Diferente de sua irmã, Eleusa, que frequentava todos os ambientes noturnos, inclusive o L’Ètoile, boate eminentemente preferida das lésbicas. Dalry, era ímpar na elegância, no vestir, no caminhar, mantendo-se em silêncio, quando este era imposto por conveniência e de poucas palavras, apenas para concordar com interlocuções. A sua juventude parecia perene, até que no final da década de 70, resolveu ir para a Alemanha em companhia de um empresário que lhe acolheu e nunca mais foi vista em Copacabana, território já cansado e distanciado da boemia, das noites de festas e muita alegria.
    Levaram Dalry, como levaram os sonhos das noites cariocas, que a aculturação implantada se encarregou de destruir. Não mais o chope gelado, a Taberna da Glória, o Llamas, o Le Rond Point, o Scoth Bar, Fiorentina, Michel, Cangaceiro, Alcazar, Jirau. Resta agora um retrato desbotado, na parede do quarto, de quem a amou e desejou como sua, aquele monumento insuperável de mulher.
Feira de Santana, 30 de março de 2014.



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